O Bolsonarismo está mudando. A necessidade de governar, associada à desidratação do campo progressista, dividiu o Bolsonarismo. Parece prisioneiro de uma armadilha: para a Ala Ideológica o Governo Bolsonaro se tornou radical de menos; enquanto para Ala Pragmática o Governo Bolsonaro ainda é radical demais. Solucionar esta equação é difícil porque restam apenas dois anos para eleições, e é preciso saber se existe tempo, recursos e, principalmente, inteligência suficientes para isso. O processo de mudança do Bolsonarismo é provocado por dois conjuntos de forças: 1) Fatores estruturais de longo prazo; 2) Fatores conjunturais de curto prazo.
1) Fatores Estruturais. Por um lado, o Bolsonarismo está mudando porque a imagem do Presidente Bolsonaro mudou. No campo conservador progressivamente o Presidente Bolsonaro vai deixando de ser visto como um herói da luta anti-corrupção, para se transformar numa espécie de pai dos pobres acidental. Esta mudança revela que as qualidades de um bom candidato não são necessariamente as melhores qualidades de um bom governante. Ou seja, que a formulação e implementação de políticas públicas é muito diferente agitação ideológica nas mídias sociais. Mais precisamente, indica o progressivo desacoplamento entre mobilizar e governar:
1.1 – Discurso de Campanha: moralização da política e mídias sociais. O Presidente Jair Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto defendendo o estabelecimento de uma Nova Política. A Nova Política constitui uma rejeição da política convencional baseada na barganha de recursos por apoio político. Porém, na prática verifica a ruptura com o Lavajatismo provocado pela demissão de Sérgio Moro, o enfraquecimento da agenda liberal de Paulo Guedes e o abandono da Pauta dos Costumes. Portanto, estas mudanças indicam que os princípios defendidos em 2018 não tinham muita profundidade.
1.2 – Estratégia de Governo: aproximação do Centrão e o Velho Normal. O cerco judicial exercido sobre a Família Bolsonaro obrigou o Presidente Bolsonaro a atenuar o discurso de radicalização; ao mesmo tempo, o negacionismo do Governo Bolsonaro na COVID-19 fez a popularidade do Presidente Bolsonaro cair. Neste sentido, o Bolsonarismo passou contar apenas com o potencial eleitoral dos anabolizantes sociais do Auxílio Emergencial. Por isto, verifica-se assim que a medida que o Bolsonarismo se enfraquece eleitoralmente na região centro-sul se fortalece na região norte-nordeste.
2) Fatores Conjunturais. Por outro, o Bolsonarismo será obrigado a mudar ainda mais. Afinal, a dinâmica eleitoral recente coloca o Bolsonarismo sob forte pressão política. Indica que os eleitores rejeitaram o radicalismo e que a Política de Polarização protagonizada pelo Presidente Bolsonaro nos últimos dois anos encontrou os seus limites institucionais. Isto acontece porque a conjuntura eleitoral assinala um desencantamento com o extremismo. Embora eleições municipais não prevejam eleições federais, a COVID-19 acabou federalizando estas eleições. Portanto, os sinais vindos das urnas indicam que o eleitor quer menos ideologia e mais realização:
2.1 – Pressão Externa: a derrota de Donald Trump deixou o Bolsonarismo órfão externamente. Isto significa que um presidente em sintonia com a agenda globalista passará a ocupar a Casa Branca. Com a derrota de Trump a agenda populista se enfraquece e deixa o Governo Bolsonaro isolado internacionalmente. Neste sentido, representa ao mesmo tempo uma crise cultural pela vitória do multiculturalismo cosmopolita, mas também apoio político ao projeto nacional populista. Em outras palavras, a derrota de Trump indica que o pendulo ideológico começa a descer.
2.2 – Pressão Interna: os resultados da eleição municipais deixaram o Bolsonarismo órfão internamente. O Centrão voltou a crescer fortalecendo a Velha Política. Além disso, indicou a baixa influência do Presidente Bolsonaro. Afinal, dos 59 candidatos promovidos em lives pelo presidente, apenas 2 se elegeram. Associado a este processo verifica-se também um deslocamento espacial do Bolsonarismo em direção ao Nordeste. A questão central, mas que ainda não tem resposta definitiva, é saber se o eleitor rejeitou somente o radicalismo ou também o Presidente Bolsonaro.
O efeito combinado destes dois conjuntos de fatores revela que a disputa se centra no campo da direita. Mais precisamente, se materializa na oposição entre a Ala Ideológica (baseada na radicalização política de extrema direita) e a Ala Pragmática (baseada na moderação centrista). Por um lado, a Ala Ideológica assinala que a ressaca política é a consequência da moderação do discurso do Presidente Bolsonaro; por outro, a Ala Pragmática argumenta que os efeitos negativos foram causados porque o Bolsonarismo não moderou suficientemente seu discurso. Portanto, o Bolsonarismo tem, ao mesmo tempo, uma disputa No Governo (interna) e Pelo Governo (Externa).
Portanto, o Bolsonarismo precisa mudar porque as saídas polares começam a ser bloqueadas politicamente. Neste sentido, apesar da elite urbana Bem-Pensante de SP insistir na novidade do Cacareco (Boulus), a ameaça ao Bolsonarismo não se situa na esquerda ou no campo progressista, mas, sobretudo, no campo conservador de direita. Isto acontece porque a direita começa a se dar conta que falta ao Bolsonarismo a constância, estratégia e ritmo tático próprio de um partido político maduro. Por isto, a principal ameaça ao Bolsonarismo é que o eleitor está em busca de mais previsibilidade, normalidade e realismo.
Fora Bolsonaro, tanto você como seus cães adestrados. Não votaremos mais em você muito menos o de minha família….vendedor de ilusões. NUNCA MAIS
Afirma o presidente que te mais de 35 milhões de seguidores em todas as suas redes sociais. Fico me perguntando se todo o povo fosse alfabetizado e politizado, certamente, o resultado seria outro, claro. Infelizmente para muitos e felizmente para outros tantos, o presidente, como outros, tem o poder de encantar os estúpidos e fomentar a estupidez. Ninguém permanece num cargo desse incólume.