Coluna: MARINA MELZ jornalista
Caros comerciantes,
Antes de mais nada, quero dizer que não sou contra o desenvolvimento da cidade. No entanto, entendo que os costumes do nosso povo precisam ser estimulados de modo a manter a nossa pujança industrial e a tradição presente nas veias dos nossos cidadãos.
Onde já se viu podermos sentar nas calçadas, sob a sombra das árvores (aquelas que aqueles interessados exclusivamente nos benefícios à sociedade ainda não derrubaram, claro), para tomar um chope com os amigos? Deveríamos é estar trabalhando ou enclausurados em casa com as opiniões mais do mesmo que se perpetuam desde a imigração alemã. Deveríamos restringir a nossa alimentação a salsichas alemãs para fortalecer os nossos vínculos europeus e não aumentando o leque de opções gastronômicas à nossa volta.
Os estudantes que habitam aquela região, coitados, acabam se perdendo em meio a tantas opções pecaminosas (gula, preguiça…) a caminho de casa e deixam de lado os estudos. Soube que até balada disfarçada de fábrica agora há por lá. Imagine só que alguns acreditam que o convívio com outras pessoas ensina tanto quanto a universidade.
Além da atmosfera de diversão num local que deveria ser de absoluto silêncio e estudo, há ainda o ar. Ar, mesmo. Um aroma de hambúrguer que invade os apartamentos no entorno (num dos quais vivo) sempre por volta das 20h. Sou capaz de imaginar que, para atrair os pobres estudantes e moradores da região, há opções com bacon, gorgonzola e até cervejas artesanais se vendem. Um absurdo!
Nos últimos tempos, como se todo o resto não bastasse, foram abertas duas sorveterias. Talvez Blumenau tenha sido sempre tão pujante porque nossos jovens não tinham opções para sorvetes aos domingos à tarde. Agora, mesas nas calçadas e dezenas de sabores de sorvetes se tornaram mais atrativos do que as nossas tradições – cadê as casas de bolão de mesa e pássaro ao alvo para essas crianças?
A rua tem chamado as pessoas. A Antônio da Veiga está tomada por cidadãos fazendo exercícios, outras passeando com seus animais de estimação. Virou uma concentração de entretenimento ao ar livre. E, sabem como é, mais gente, mais riscos.
Graças a vocês, somos convidados a viver as ruas de um jeito intenso como só encarávamos a rotina de trabalho e como os jovens se dedicavam apenas aos estudos.
Por isso, peço que reduzam a qualidade e a quantidade dos seus sabores, recolham as mesas das ruas e parem de pensar em novas opções.
A tradicional sociedade blumenauense agradece.
OBS: Esta carta utiliza o artifício lingüístico da ironia. Caso você não tenha percebido e, em algum momento, tenha se identificado com algum pensamento acima, cuidado: você pode estar vivendo na cidade – ou no século – errado.
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