“Sonder” vem do alemão e pode significar algo “especial” ou excepcional. Entretanto, por indicação do meu filho Leonardo (leitor voraz, fã do Bernie Sanders, do Bukowski e de alguns existencialistas) fui ao site devaneiosdepapel.com.br da Stephanie Bertran e me deparei com uma conotação diferenciada para essa palavra.
Refere-se à sensibilidade necessária para se perceber que qualquer indivíduo que passe aleatoriamente por você, na rua ou em qualquer lugar, está vivendo uma vida tão intensa e complexa quanto a sua.
É diferente de empatia que se refere a tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar o que sente o outro. E daí você se solidariza e até justifica aquela pessoa.
Assim “sonder” alcança, no meu entender, a capacidade de compreender que somos seres que exercitam suas humanidades expostos a ambientes de grandes desafios, limitações e imposições. Somos frágeis e fortes, vulneráveis e resilientes, que vivemos em coletividades, na “polis” e por isso somos, em essência, “animais políticos”.
Essa reflexão me levou a pensar na situação do Brasil de hoje. Ambiente dramático, exacerbado por uma pandemia e outros eventos preocupantes tais como queimadas, cheias, disputas políticas exacerbadas e polarizadas. E não há no horizonte algo que nos tranquilize. Talvez a proximidade (?) da vacinação em massa.
E há, é claro, um personagem central nesse drama “kafkaniano” – o presidente da República. Certamente ele está experimentando uma vida intensa, desafiadora e complexa e a ela responde com a sua “peculiar” visão de mundo.
Mas o que parece ser essa Weltanschauung (concepção de mundo) do bolsonarismo? Ele a deixou claro ao longo da sua carreira.
Bolsonaro jamais dissimulou. Ao longo de sua vida e de sua trajetória política, ele nunca escondeu o culto à morte, o gosto pela tortura, a frustração porque a ditadura não matou 30 mil pessoas em vez de 430, a admiração pelo homem (Ustra) que fez coisas inomináveis ao torturar em especial e covardemente as mulheres.
No exército Bolsonaro se rebelou com os salários de oficiais militares (o que diriam os de salário mínimo?) e por isso foi preso por 15 dias (adiante foi absolvido). Mais tarde consta que teria ameaçado dinamitar quartéis. Elegeu-se vereador e por conta disso passou para a reserva do Exército.
Adiante foi deputado. Durante seus 27 anos na Câmara ficou conhecido por declarações classificadas como discurso de ódio e por sua postura política caracterizada como populista e de extrema-direita, que inclui a simpatia pela ditadura militar e a defesa das práticas de tortura durante aquele regime.
São também notórias as suas críticas extremadas à esquerda, inclusive com incitação à violência como prática legítima, as suas colocações machistas, contrárias aos direitos LGBT e por várias outras declarações controversas, as quais lhe renderam cerca de 30 pedidos de cassação e três condenações judiciais. Talvez porque fosse do “baixo clero” ou simplesmente por corporativismo as cassações não foram adiante.
Como presidente, seus atos e falas autoritárias já renderam censura por parte de várias organizações internacionais e no país, por criarem risco de danos irreparáveis à sociedade civil, à imprensa, aos afro-brasileiros, aos indígenas e aos críticos do governo.
Por outro lado, diante da atabalhoada gestão de crise sanitária e de outras questões, já dormitam na Câmara mais de 60 pedidos de instauração de impeachment.
Isso posto e para tentar ser breve encerro afirmando que, sob perspectiva do “Sonder”, fica claro que o Bolsonaro presidente está apenas sendo o Jair Messias de sempre. Apegado às suas crenças, impactado pela complexidade da situação e incapaz de fornecer respostas minimamente razoáveis. Ele não vai mudar. E, na linha da empatia, não há como justificá-lo e é até difícil entender o que se passa em sua mente.
E o descontentamento com o seu governo é crescente, o povo começa a se movimentar nas ruas e o #ForaBolsonaro ganha relevo.
Os brasileiros e brasileiras merecem respirar e aspirar por um futuro mais justo, equânime e fraterno.
Na época do sapobarbudoexcremento era tudo muito mais mió!
VTNC!
Em tempo: quando se referir aos brasileiros, diga, simplesmente, “brasileiros”. O termo “brasileiros” já inclui TODOS, incluindo LGBTs.
E nisso tudo, só nos resta lamentar mais uma década perdida (e se reeleito, muito mais)!
Parabéns professor Aroldo, ótima explanação sobre quem é realmente esse presidente, vejo-o da mesma forma como você, desde o principio ele foi esse que hoje é, nada mudou. Ele é racista, é homofobico, é ao meu ver um anti-cristo. Pois prega usando a biblia, mas não transforma em atitude o que aprendeu. Talvez por isso, o exercito não o quis. E encontrou campo fértil naqueles que como ele tem o mesmo pensamento.
Agradeço a quem leu e se manifestou . E lamento pela pobreza de espírito de quem xingou. Fazer o que, cada um dá o que tem.