Opinião: mudaram as estações… nada mudou!

Muito além da narrativa de direita e esquerda, dos discursos contrários ou favoráveis ao ex-presidente da Câmara, Deputado Rodrigo Maia, o fato é um só: nada mudou na base de apoio ao Governo Bolsonaro. Ao longo dos 20 e tantos meses no poder, a retórica de obstáculos parlamentares aos projetos de Jair não retrata a realidade. As casas legislativas curvaram-se, cerca de 80%, as vontades do executivo. Negar é fechar os olhos para verdade. E nem precisa confiar em jornais ou qualquer meio de imprensa. Basta abrir o histórico de como cada parlamentar votou para identificar, com clareza, para que lado pendeu a balança…

A seletiva memória dos apoiadores de Bolsonaro torce o pano para limpar o passado, perfumar, com essências de esperança, o que antes cheirava podre e enxofre. Na antessala do inferno, a antiga negação da política dá lugar a cegueira da defesa infantil do político de estimação, execrada até pouco tempo. A voz que esbravejava ontem, agora afaga, com carinho e fartos fundos do público, o mal falado centrão.

Talvez esta seja a mudança: o fim do argumento de culpa ao parlamento. Na espera pela salvação de um governo que prometeu muito, incluindo ser diferente – seja lá o que isso represente para você -, e nada entregou em dois anos. Nos mesmos termos dos antecessores, deposita-se a alma e sabe-se o que Deus mais. Neste toma lá, dá cá está cada vez mais claro que governos de morais e ética ou emocionais e psicológicos fracos custam em demasia para sociedade mantê-los no poder.

A eleição do Deputado Arthur Lira para o comando da Câmara torna cristalino a influência do Governo na formação da liderança do parlamento. Fato que repete o ocorrido com Maia, em 2019. Uma matéria do G1 daquele período não deixa mentir: “Apontado como favorito na disputa, Rodrigo Maia conseguiu costurar o arco mais amplo de apoio, com 15 partidos, incluindo o PSL do presidente da República, Jair Bolsonaro”.

Então, se a maior parte do parlamento é harmonioso ao capitão que lidera o Executivo, por qual motivo as coisas no Brasil não andam? O que faz que as reformas, tão esperadas por todos não sejam destravadas? A explicação é a mesma para justificar o que fez o boi trepar na árvore. Alguém pois ele lá em cima… do alto não sabe o que fazer.

O desenho do momento é que, no restante deste mandato, pouco ou quase nada seja alterado no andamento das urgências do país. O retrato dos próximos dois anos pode, ao que tudo indica, repedir os 24 meses anteriores… muito discurso, muita retórica e muita gaveta. O que pode colorir o futuro é um crescente populismo, com mais incentivos econômicos e fiscais, mais Estado e menos controle das contas públicas.