Opinião: um novo cenário ou novidades requentadas?

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É bastante salutar que  a anulação dos processos de Lula e os sinais inequívocos de que o STF deve anunciar a suspeição de Sergio Moro, causou uma bagunça no sistema político. Os principais agentes estão procurando entender o ambiente e, principalmente, saber onde se posicionar nele a partir desse novo cenário.

Bolsonaro parece ter acusado o golpe, uma vez que poucas horas depois do discurso do líder petista, apareceu usando máscaras e incentivou propagandas da vacinação.

Entretanto, o líder máximo da república não parece ter sido o único a se sentir deslocado com os últimos acontecimentos. Diversos jornalistas da grande mídia falada e escrita, que junto da força-tarefa da Lava-Jato formavam o núcleo duro daquilo que se convencionou chamar de República de Curitiba, se mostram incrédulos e reticentes, sem saber como reagir às mudanças provocadas pelo retorno do ex-presidente ao páreo.

Merval Pereira, jornalista do grupo O Globo,  indica o sintoma do qual políticos em geral e parte da imprensa manifestam: em coluna no jornal O Globo, o mesmo divaga sobre  possíveis chances na corrida presidencial por parte dos governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS). Pereira deixa clara uma insatisfação com um eventual cenário polarizado entre Lula e Bolsonaro, e faz questão de fazer alusão a um protagonismo do PSDB, o que não parece ser pouco realista nesse momento. Há uma clara tendência por parte do mercado e de formadores de opinião, de viabilizar alguma alternativa para o que pode vir a ser uma polarização entre extremos em 2022.

Parte da esquerda que se uniu em torno da provável candidatura de Ciro Gomes também estão carregados de tensão. É de conhecimento do núcleo forte da candidatura Ciro Gomes que se Lula se candidatar e tiver possibilidade de cruzar o país em campanha, a possibilidade de Ciro ser bem sucedido é quase nula.

Curiosa também é a reação do generalato anti-petista. Até o momento ficaram calados, assoberbados. O General Villas Bôas, outrora bastante comunicativo, caiu em silêncio sepulcral, deixando à mostra a impossibilidade de seu grupo de influenciar o sistema partidário sem o apoio de outros setores sociais. 

Tem muita água pra rolar debaixo da ponte até 2022. E eu não vejo sinal algum de que o sapo barbudo leve essas eleições no primeiro turno, ou sem um amplo espectro de alianças com o centro liberal. Na verdade, o grande problema do PT em 2022 será também conseguir governabilidade. Não adianta nada ganhar, mas não poder levar.

Todavia, há um aspecto central que não está sendo analisado com a severidade devida por políticos, jornalistas e até mesmo cientistas sociais. Se por um lado, a militância da esquerda vocifera contra o Teto dos Gastos, a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência e as privatizações, por outro, não esqueçamos que sua esperança personificada, o ex-presidente Lula, já apaziguou “os mercados”, com uma Carta 

O que está diante dos agentes políticos e da burocracia dos representantes do mercado, é que as demandas advindas das reformas já aprovadas e as que se pretende aprovar, assim como o desmonte do chamado legado desenvolvimentista, são inegociáveis. Lula, por sua vez, sabe da impossibilidade de governar sem um amplo espectro de alianças com o centro liberal.

Dito isso, ainda que as novidades trazidas pelo ministro Edson Fachin tragam incertezas, as frentes de militância nas redes sociais, uma com devoção a Lula, outra com fé fanática em Bolsonaro, eventualmente tenham fundamento para a corrida eleitoral, porém, nenhuma valia no que concerne a projetos substancialmente distintos.

Se faz necessário lembrar que a práxis do PT no governo foi basicamente a práxis neoliberal, com apenas alguns pequenos ajustes na política internacional, e toques assistencialistas que garantiram simpatia das camadas menos abastadas. O Banco Central ficou sob tutela de Henrique Meirelles, conceituado junto à burocracia do mercado, e que defendeu a manutenção das políticas de seu antecessor, Armínio Fraga: o tripé macroeconômico. 

O que podemos colocar como reflexão é se o que se conhece do PT enquanto governo não é suficientemente esclarecedor a ponto de podermos afirmar que Lula também  romperá com a política de Teto de Gastos e nem irá liderar uma revisão das reformas já aprovadas.

No fim das contas, para tentar acabar com a estagnação econômica do início dos anos 2000, o único recurso do governo petista foi incentivar o consumismo. Um pseudo-desenvolvimentismo que, acoplado a juros reais elevadíssimos, garantiu lucros inimagináveis para os bancos e endividamento maciço da população brasileira. Como sabemos hoje, foi um enriquecimento ilusório.

Para piorar, a crise econômica que desde 2014 não dá mostras de acomodação, impede qualquer manobra de aumento do crédito de pessoas físicas e jurídicas.

Assim sendo, estamos mesmo diante do início de uma era polarizada? A crise existencial do espectro político liberal, de parte da imprensa e até mesmo dos eleitores, faz algum sentido?

Tendo a acreditar que caso se concretize o cenário polarizado entre as candidaturas de Lula e Bolsonaro, poderemos vivenciar em 2022 uma guerra de narrativas, mas de forma alguma um debate de projetos ou práticas eficazes para garantir desenvolvimento econômico compatibilizado com o aumento qualidade de vida.

Em outras palavras, as novidades trazidas pelo ministro Fachin podem ser apenas a readequação de algo que já conhecemos. Já conhecemos Lula, assim como agora conhecemos Bolsonaro. Sabemos que não governam sozinhos, da mesma forma que precisam se acercar dos mesmos elementos para que seus mandatos possam transitar no sistema político brasileiro.

Lula e Bolsonaro, com tonalidades e qualidades distintas, ao término do dia, são duas narrativas que precisam ser encaixadas em um mesmo livro.

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3 Comentário

  1. O único que fez o inominável usar máscara, defender a vacina e falar fininho. Ele assombra qualquer malandro. Fez um ogro metido a machão se tornar um cachorrinho. Digamos que um cidadão do mundo, onde passa impõe respeito. Um homem que incomoda muita gente. Nem preso calaram sua voz.

  2. Lula é o estadista. E a elite equivocada não consegue ou não quer ver.

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