Opinião: apaguem a luz… vai faltar energia por ai!

Foto: reprodução

Desde que o mundo existe algumas coisas não mudam. A teimosia do Brasil de contar com a sorte está, sem dúvida, no topo desta lista da inercia. Mais uma vez apostamos nossas fichas na fé de que tudo dará certo e seremos, milagrosamente, salvos dos problemas que deixamos de gerenciar. E olha que não é preciso pensar muito para compreender que sem o nosso cuidado não existe mudança, desenvolvimento e riqueza.

Nesta composição de certezas que no último minuto criaremos a solução, que amanhã algo ou alguém fará a mágica de priorizar os gatilhos do crescimento, deixamos de olhar para o que interessa: a base. Não existe país que “deu certo”, liderando a geração de renda, de qualidade de vida e que atingiu seus objetivos negligenciando sua capacidade expansão de potencial competitivo. Limitar as opções de abastecimento energético é, sem dúvida, um erro que só o Deus brasileiro explica.

El Niño e a La Niña revessam, desde o que o redondo mundo existe, os ciclos climáticos naturais na terrinha de Cabral. Um aquece as águas do oceano Pacífico, trazendo muitas chuvas para Brasil, e o outro resfria, provocando um período de seca e estiagem. Atualmente, quem domina é La Niña, que reduz nossos reservatórios hídricos e isso dificulta a geração de energia. Que azar, não? Como poderíamos prever?

A matriz energética brasileira é formada por uma rica e renovável indústria: água, vento, sol e biomassa. Acontece que planejamos pouco, escolhemos o mais simples e eliminamos as possibilidades de armazenar energia. As hidroelétricas dominam a geração no país. A maior parte, porém, graças a escolhas questionáveis, utilizam a passagem do leito para girar as turbinas, basicamente sem reservar água para estiagem. Logo, sem estoque de “combustível” para empurrar as engrenagens as estruturas não servem para muita coisa.

Vivemos em 2001 um histórico apagão que jogou nossa produção nas trevas. Até lâmpadas dos postes precisaram ser desligadas para não travar por completo o nosso sustento. Naquele momento a ciência, valorizada, encontrou tecnologias locais para aprimorar o que tínhamos, inovar e implantar um sistema que evitasse a repetição daquela trágica situação.

O tempo passou, aos poucos esquecemos do duro golpe da falta de sorte e chutamos a ciência para um canto qualquer. Retiramos os investimentos necessários, escolhemos outros caminhos e deixamos as coisas andarem…

Diante dos efeitos de prolongada estiagem, Fiat lux, diria o Senhor em latim. Que “faça-se luz” e ativem as custosas termoelétricas.

Como sorte pouca é bobagem, não basta para o país viver a tragédia da pandemia, perdendo mais cidadãos que Hiroshima, negamos por um bom tempo que poderia chegar a pior crise hídrica dos últimos quarenta anos. Nunca antes na história tantos megawatts foram gerados por termoelétricas; hidroelétricas finalizaram o período de cheias com as barragem mais vazias que jamais em outro momento; e nossa indústria começa a se recuperar de um período duro.

Se tivermos sorte, se São Pedro molhar esta abençoada pátria, o apagão não vem. Caso crescermos acima da média da última década e a chuva faltar, os especialistas apontam que entre dezembro deste ano e abril de 2022 pode acontecer novamente da escuridão tomar conta do Brasil.

Continuamos como sempre: torcendo! Que dos céus desça a luz para brilha nossa escuridão. Lux in Tenebris…

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