Generais da reserva temem ‘vírus da insubordinação’ com decisão do Exército de não punir Pazuello

Foto: Agência Brasil

Generais da reserva ouvidos pelo Blog do Gerson Camarotti, no G1, nesta quinta-feira, 3, manifestaram preocupação com a decisão do comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira de não punir o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.

No último dia 23, Pazuello, general da ativa, participou de um ato político no Rio de Janeiro em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Pazuello chegou a subir em um carro de som com Bolsonaro e fazer um breve discurso.

O Regulamento Disciplinar do Exército e o Estatuto das Forças Armadas proíbem a participação de militares da ativa em manifestações políticas. Aberto um processo disciplinar, o comando do Exército considerou que não houve transgressão e anunciou que o caso está arquivado.

“Isso pode disseminar o vírus da insubordinação”, alertou um dos três generais da reserva ouvidos pelo Blog na condição de anonimato.

A percepção interna é que o presidente Jair Bolsonaro enquadrou o Exército ao deixar claro que não aceitaria a punição de Pazuello. Nestes últimos dias, o presidente deu sinalizações claras de que blindaria o ex-ministro da Saúde, inclusive com a decisão de nomeá-lo para um cargo em uma secretaria no Palácio do Planalto (vídeo abaixo).

O temor entre generais é de que se intensifique um movimento de politização dos quartéis.

Um sinal disso foi a demissão, em 29 de março, do então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva e, no dia seguinte, dos três comandantes das Forças Armadas — Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica).

Na ocasião, Bolsonaro vinha demonstrando contrariedade em relação à posição adotada pelo general Pujol. O presidente queria um engajamento maior do Exército em defesa das ações do governo.

Nas palavras de outro general da reserva, diante desse histórico recente, o atual comandante do Exército ficou numa situação extremamente delicada.

Isso porque uma punição ao Pazuello poderia desencadear uma nova crise na relação do Exército com Bolsonaro, resultando na própria substituição do general Paulo Sérgio Oliveira.

“Certamente, pesou o que seria o mal menor para o Exército”, ressaltou.

Ao Blog, outro general da ativa fez uma avaliação diferente.

“Pazuello para nós é carta fora do baralho. Ele já está nesse jogo político há mais de um ano. Ele já está fora do Exército. Não sei por que ele não foi para a reserva. Não tem mais sentido ele ficar no Exército. Pazuello não tem mais espaço nenhum. Não tem mais liderança. Por isso, não tem clima de insubordinação. Pazuello está na ativa por questão de direito. E não de fato”, ressaltou esse general.

A punição para Pazuello poderia ir de advertência à prisão. Nos bastidores, Bolsonaro defendeu que o ex-ministro não fosse punido. Além de militar da reserva, o presidente é o comandante em chefe das Forças Armadas – por isso, superior hierárquico ao comandante do Exército.

O vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva, defendeu a regra que veda participação de militares da ativa em atos políticos a fim de se “evitar que a anarquia se instaure dentro” das Forças Armadas.

“Eu já sei que o Pazuello já entrou em contato com o comandante informando ali, colocando a cabeça dele no cutelo, entendendo que ele cometeu um erro”, afirmou Mourão a jornalistas no dia seguinte ao ato político.

Fonte: G1

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