Coluna: MATERNIDADE por SABRINA HOFFMANN jornalista e mãe
Se tem uma coisa que mãe aprende rapidinho é a arte de ignorar comentário e dica sem noção. Eu até entendo que tem gente que não faz por mal, quer mesmo ajudar. Mas, convenhamos: bom senso e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Depois que tive filho, passei a pensar 10 vezes antes de dar pitaco ou jugar as decisões maternas alheias. E também aprendi a sorrir mais. Aquele típico sorriso amarelo de quem tem preguiça de discutir e que pode substituir um bom grito entalado na garganta.
Quando, por exemplo, você vai ao mercado em pleno mês de fevereiro, no calor senegalês de Blumenau, e uma senhora resolve parar as compras para te alertar sobre a importância de vestir uma meia no bebê. Aí começa o jogo de expectativa X realidade. A expectativa é dar um belo grito de VÁ CATAR COQUINHO, A CRIANÇA TÁ SUANDO E CHEIA DE BROTOEJA. A realidade? Sorriso amarelo.
Ou quando, depois do fim da licença-maternidade, o seu filho começa a ir pra creche e as pessoas te olham com olhar de desprezo. “Nossa, mas ele fica o dia todo longe de você”. Expectativa: gritar que tudo o que queria é poder largar o trabalho para ficar com a criança pelo menos por mais alguns meses, mas as contas não se pagam sozinhas. Agora, se alguém assumir os boletos que tenho aqui comigo, estou topando vender coco na praia. Realidade? Sorriso amarelo.
Vale também para quem acha um A-B-S-U-R-D-O você não ter mais disponibilidade para sair com os amigos ou assumir compromissos profissionais fora do horário de trabalho. Expectativa: tapa na cara. Realidade: sorriso amarelo.
A lista não para por aí: você dá doces demais, você controla muito, é autoritária, faz tudo o que seu filho quer. Junto com um filho, aparentemente, nasce uma sociedade inteira pronta pra te mostrar o quão desqualificada para a função de mãe você é.
Paralelo a comentários e sorriso amarelos, nós, mães, vivemos um oposto. Porque quando você olha as outras mães com empatia e passa a acreditar em uma maternidade mais consciente, recebe e dá apoio e sorrisos sinceros.
Como quando conheci melhor a história de uma amiga que teve coragem de seguir sozinha quando descobriu a traição do companheiro, ainda grávida. Realidade: sorriso sincero e coração carregado de admiração.
Quando você se torna mãe e passa a ver com outros olhos a dedicação das mães ao seu redor: a sua, a dos seus primos, a da sua sobrinha. Realidade: reconhecimento.
Ou ainda quando percebe que, por mais que existam críticas, as pessoas estão começando a perceber que ter filhos é optar por uma vida cheia de amor. Mas que isso não torna a trajetória menos difícil. E que todos nós, com um pouquinho de empatia por pais e mães cansados e sobrecarregados, podemos fazer desse mundo um lugar mais acolhedor e menos arbitrário.
Nestes três anos de caminhada, aprendi e compartilhei diversos sentimentos. Mas entre todos os sorrisos, opto pelos sinceros e gratos.
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A sinceridade deveria prevalecer sempre . E filhos ? Só sabe quem tem e ama ,não existe nada melhor que eles .
Parabéns pelo artigo. Bem escrito e verdadeiro.