Opinião: a peste também é econômica

Foto: Fotopress/Reprodução via DW

Na última semana o número de vitimados pela Covid-19 no Brasil chegou a meio milhão. Sim, aquilo que era pra ser apenas uma gripezinha e levar a óbito no máximo cinco mil, e terminar em semanas, já assassinou mais de 500 mil brasileiros. Depois de 16 meses desde o primeiro caso de Covid 19 no território nacional, o que assistimos foi a morte como forma de governo e a negação da razão e da ciência como forma de explicação da realidade. O resultado é a ampliação da pobreza e da desigualdade.

A Covid-19 chegou e encontrou um mundo mergulhado em uma crise econômica que é resultado de 20 anos de neoliberalismo. Em 2017, segundo o Fórum Econômico Mundial, cerca de 1% dos mais ricos do mundo ficaram com 82% de toda riqueza global gerada. No Brasil, naquele ano, seis bilionários já concentravam patrimônio equivalente a renda da metade mais pobre da população.

O número elevado de mortes e o período de afastamento social nos fez intuir que a tragédia nos faria incubar um mundo mais justo e solidário. Editoriais de jornais e peças publicitárias nos chamavam para o “novo normal”. Ledo engano! Segundo a revista Americana Forbes, a riqueza dos maiores bilionários do mundo aumentou cerca de US$ 5 trilhões de dólares desde o início da pandemia.  No mesmo período, quase 660 pessoas entraram para o grupo mais rico do mundo, uma média de um novo bilionário a cada 17 horas.

Paralelo a isso, somente na América Latina, 22 milhões de pessoas escorregaram e desceram à linha da pobreza. Entre os mais pobres a situação piorou. Das 209 milhões de pessoas que viviam em situação de pobreza no final de 2020, 78 milhões viviam em extrema pobreza, um acréscimo de 8 milhões em relação ao período anterior à pandemia. A solução do nosso ministro da economia foi cortar o auxílio emergencial e distribuir sobra de comida para os empobrecidos.

O fato é que a pandemia acelerou as consequências da última quadra de aprofundamento das políticas neoliberais. Este modelo aposta no mercado como regulador social e combina trabalho barato com o domínio do capital financeiro sobre o capital produtivo. Reduz cada vez mais a capacidade dos Estados de controle e planejamento sobre o capital.

O negacionismo científico e a necropolitica do Brasil de Bolsonaro-Guedes é vanguarda nessa política, não é um fenômeno isolado, é face desta cruel crença econômica.  A reação à Covid-19 e a construção do “novo normal” precisa romper com essa lógica. Se não superarmos isso, não venceremos o Covid e muito menos o Bolsonarismo.

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