O que aconteceu na audiência pública realizada na noite desta quarta-feira, 16, na Câmara de Blumenau, para discutir o passaporte sanitário e a vacina obrigatória, precisa servir de lição, ou ao menos, de reflexão.
Foi uma noite de negação a ciência, a todo trabalho que vem sendo feito pelas autoridades das diferentes esferas de poder, de tudo que aconteceu e acontece no mundo, de um viés ideológico de extrema-direita – tudo que é extremo é ruim -, de preconceito e de xenofobia. E de muita, muita politicagem.
Apesar de ser proposta por um determinado vereador, a audiência pública é da Câmara, aprovada pelo conjunto de vereadores – neste caso, por unanimidade – e deveria ser plural. Não foi o que aconteceu na noite desta quarta e muitas vezes não acontece nestas audiências, salvo raras exceções, quando elas realmente cumprem seu papel de debater assuntos importantes para a comunidade.
Do jeito que estão, as audiências são para reforçar as convicções do vereador proponente. Neste caso, da vereadora Silmara Miguel (PSD), que falou por mais de uma vez para os manifestantes – em número bem maior que a capacidade – “estamos do mesmo lado”, “tenho orgulho de vocês” e “estamos lutando pela liberdade”.
Dos 15 vereadores que aprovaram a audiência, apenas quatro estiveram presentes. Além de Silmara, o colega da Igreja Assembleia de Deus, Marcos da Rosa (DEM), Almir Vieira (PP) e Adriano Pereira (PT), que teve coragem e fez questão de marcar posição contra o que estava sendo apresentado no momento.
Nenhum dos deputados de Blumenau estava presente, até pelo fato de não terem sido convidados: Ricardo Alba (União Brasil), Ivan Naatz (PL) e nem Ismael dos Santos, do PSD, mesmo partido da vereadora. Dois deputados de fora, conhecidos por suas posições extremistas e contrárias a muito do que se tem feito no combate ao Coronavírus, marcaram presença em Blumenau, Jessé Lopes e Ana Campagnolo, de saída do PSL, abrindo palanque para quem é de fora.
Nenhum especialista de Blumenau – fora os representantes da Prefeitura – foi convidados. Nenhum diretor do Hospital Santa Isabel, Santo Antônio, Santa Catarina, da Unimed ou do Pulmão, impactados diretamente pelo vírus, foram chamados, assim como representantes das entidades médicas, da própria Unimed ou do curso de medicina da FURB, um dos mais tradicionais de SC.
De Blumenau participou o médico cirurgião geral, Bruno Trauczynski e médico sanitarista Mário Kato, este por interferência direta do vereador Adriano Pereira (PT), único a fazer contraponto. Mas foi chamado de “comunista”, ele que foi candidato a prefeito pelo PCdoB na última eleição. Kato ainda tentou convencer outros colegas a participar, mas não teve êxito.
O perfeito Mário Hildebrandt (Podemos), a vice Maria Regina Soar (PSDB) e o secretário de Promoção em Saúde, Winnetou Krambeck foram convidados, mas a Prefeitura, cuja manifestação está clara diariamente nas transmissões oficiais, não mandou representante, optando por emitir uma nota onde deixa claro que não existe passaporte sanitário em Blumenau, que o comprovante de vacinação é exigido apenas para eventos de porte maior.
O vereador e médico Marcelo Lanzarin (Podemos) também se recusou a ir, afirmando que a audiência era de caráter ideológico.
Blumenau é a cidade com o menor índice de letalidade entre as cidades de seu porte e tem se destacado no combate ao Coronavírus.
Os “especialistas” convidados são todos de fora, figuras conhecidas pelo embate ideológico numa questão de saúde pública, com posições muitas vezes questionadas por disseminar fake news. Basta uma rápida pesquisa na Internet.
E tinha o povo, o povo! Uma claque barulhenta que veio para ouvir o que queria e pressionar os poucos que se atreveram a manifestar-se de forma contrária.
A Casa do Povo de Blumenau cometeu um erro sobre um assunto tão sério. Conheço a maioria dos vereadores e imagino que muitos deles – me atrevo a dizer a maioria, a mesma maioria que aprovou a audiência – devem estar envergonhados e arrependidos.
Respeito muito o trabalho de todos, que fique a lição. Em respeito aos mortos, suas famílias, aqueles que tiveram sequelas por conta deste vírus, que não é ideológico.
Confira o que o Informe escreveu sobre as falas desta audiência.
Alexandre uma manifestação corajosa e necessária de um jornalista muito cuidadoso ao lidar com os temas difíceis.
O Câmara municipal de Blumenau não pode ser chamado de ” Casa do povo” , deveria ser chamada de ” Casa dos Patos” , que neste caso é o povo .
A composição atual da câmara , se não é a pior dos últimos 12 anos , esta entre as piores e olha que já temos vereador com mais de 2 mandatos.
Total falta de respeito da Câmara, pelos profissionais da saúde que se arriscam pela vida dos outros!
O povo que vota e paga essa conta toda, NÃO QUER O PASSAPORTE OBRIGATÓRIO.