Por Samuel Andreis
Juiz da 90ª Zona Eleitoral (Concórdia)
As urnas eletrônicas são seguras? Sim. As auditorias, as audiências públicas, as chaves de segurança e os mais de 20 anos de uso sem qualquer suspeita fundada garantem que sim, elas são confiáveis. Por que, então, pessoas acreditam em vídeos grosseiramente montados e em estórias fantasiosas de fraudes?
Em 1938, em uma transmissão de rádio, a dramatização do livro de ficção científica A Guerra dos Mundos feita por Orson Welles levou pânico aos Estados Unidos, pois muitos ouvintes acreditaram que, de fato, a Terra estava sendo invadida por alienígenas. Na ocasião, houve até testemunhas que juravam ter sentido o cheiro do gás venenoso usado pelos extraterrestres. Outra testemunha disse ter achado plausível que os marcianos fossem aliados de Hitler em seu plano de dominar o mundo. Trata-se do mais célebre caso de histeria coletiva.
Aqui, a histeria coletiva começou nas Eleições 2014, na disputa presidencial. Na época, pipocaram na internet “notícias” de fraudes, todas comprovadamente falsas. Posteriormente, feita auditoria, nada de irregular foi encontrado. Agora, o país já testemunhou significativa alternância de poder: muitos vencedores em 2014 não conseguiram êxito em 2018. Mas as pessoas, paranoicas, continuam com medo dos ET’s.
Acreditam que “a urna autocompleta o voto para Presidente”, que “um ex-deputado recebeu asilo por denunciar fraude” ou que “o Exército exige perícia nas urnas”, assim como os ouvintes da transmissão de Orson Welles acreditaram que a descarga do banheiro da rádio era o som do foguete dos alienígenas chegando.
E, por mais que a Justiça Eleitoral e a imprensa séria forneçam toda informação necessária para garantir a tranquilidade da eleição, estes eleitores preferem consumir com voracidade as fake news, alimentando doentiamente seu viés de confirmação e, com isso, deturpam sua percepção da realidade.
No dia 28 de outubro, vamos deixar estes aliens para o mundo da imaginação, porque no mundo real a urna eletrônica é segura, confiável e mais uma vez servirá de instrumento para a manifestação da vontade popular.
Esse é o famoso enredo da criação dos mitos. Da mesma forma que um dos lados cria “aliens” imaginários – nesse caso, urnas eletrônicas fraudulentas – o outro, acredita viver em um “paraíso” – urnas eletrônicas infalíveis. A grande questão é: em quem acreditar? Qual dos dois lados chega mais próximo da realidade?
Confesso que não tenho uma resposta para essa incógnita, mas sei que, para um governo se sustentar, mitos devem ser criados por ambos os lados.