A Voz Delas ecoa por aqui

Marina Melz

jornalista

 

Sempre que alguma discussão sobre o feminismo surge, a bonita conclusão é de que estamos em processo, progresso, evolução. Acho pouco provável que alguém negue. Mas também acho bonito vermos um objetivo claro lá na frente. O que queremos é que seja tamanha que esta discussão nem caiba mais. Bonito o dia em que formos ultrapassados.

Enquanto esse momento não chega, a gente vai percorrendo esse caminho cheio de surpresas. E uma das mais bonitas do ano certamente foi a exposição física e digital A Voz Delas (www.instagram.com/vozdelas), realizada por alunos de comunicação social da Unisociesc.

Até que chegássemos em 2018 com as redações das duas principais emissoras de TV regionais comandadas por mulheres, muita água passou por esse Itajaí-Açú. E, mesmo que a água nunca mude ou as pessoas jamais sejam as mesmas (salve Heráclito!), essas histórias não podem, nem devem ser esquecidas.

O projeto A Voz Delas foi idealizado por três mulheres incríveis. Dê Sapelli, Marta Brod e Alessandra Meinicke orientaram um grupo de mais de 30 alunos a procurarem cerca de 80 mulheres que fizeram parte da construção do jornalismo na região. Com microfones em punho ou nos bastidores, elas acumulam histórias que vão desde as vivências em redações absolutamente machistas de (poucos, infelizmente) anos atrás até coberturas independentes, passando pela sempre fundamental pesquisa.

A exposição tem várias belezas. Talvez pra mim a mais importante delas seja nos reconhecermos. Nós mesmas, mulheres. Percebermos que somos muitas, que podemos ser espectadoras umas das outras e, ao mesmo tempo, juntas, protagonistas de uma nova história.

Também traz um triste cenário: crescemos em número, mas ainda temos um grande caminho a percorrer na diversidade. As peles claras são uníssonas nas nossas vozes e pautas.

Sabendo da certeza de ser injusta, faço questão de citar uma que me é muito cara. Roseméri Laurindo. Foi ela que, com as unhas pintadas de rosa e verde, nunca esqueço, me disse logo depois da colação de grau: juntas sempre seremos mais fortes. Foi a Rose que me mostrou que a quantidade de diferentes perspectivas é que dá riqueza à monografia e à vida.

E é isso que A Voz Delas faz. Dá amplitude e profundidade ao jornalismo local. Escancara diversidade e a falta dela.

Que chegue o momento em que a gente não precise ampliar o volume para que todos sejam ouvidos. Por enquanto, que bonito e necessário grito esse.

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