Coluna Gaspacho para todos por: MARTA BROD jornalista e professora universitária
Shonda Rimes é a criadora de três séries incríveis: Grey´s Anatomy, How to get away with murder e Scandal. Tá, tudo bem, elas tem lá seus problemas de roteiro, histórias bem exageradas e tramas extremamente longas. Mas todas elas têm uma coisa em comum: suas personagens principais são mulheres. São mulheres fortes, empoderadas e que inspiram. Shonda criou essas séries, pois sentia falta de uma representação feminina e que se aproximasse de sua realidade. Mas, mais importante do que isso: Shonda deu voz as suas mulheres.
Em um dos últimos episódios da décima segunda temporada de Grey´s Anatomy, Meredith Grey, personagem interpretada por Ellen Pompeo, explica como as mulheres são silenciadas ao longo da vida. E finaliza: “Não deixe que o medo cale você. Você tem uma voz então a use. [..]Façam com que ouçam você. Custe o que custar. Encontre sua voz e quando encontrá-las preencha o silêncio”. Então, pra celebrar o Dia Internacional das Mulheres, eu convidei cinco mulheres para dar voz a coluna de hoje. Elas escrevem sobre séries, livros, músicas e games. São mulheres maravilhosas, empreendedoras, jornalistas, escritoras e que de um jeito ou de outro sempre inspiram com seu trabalho ou história de vida. Bem vindas: Nathaly, Carolina, Marina, Maria Clara e Camila
Nathaly Santos , publicitária
Livro: Duas Mulheres, da autora Martina Cole
Desde pequena, Susan passa por uma série de abusos, físicos e psicológicos, tanto da sua mãe quanto do seu pai. Incentivada pela mãe, casou-se muito cedo, aos 13 anos com um protótipo do pai. Logo, os abusos só mudaram de endereço, pois ela era constantemente violentada por seu marido e algumas vezes por seu pai, que a tinha como propriedade dele.
Esse livro me chocou, além de toda violência vinda dos homens, fica claro que as mulheres daquela família também não se importam umas com as outras. A mãe e a avó da protagonista, que deveriam protegê-la, também a maltratam de diversas formas.
Susan é o saco de pancadas de todos e nunca revidou, sempre foi chamada de feia, de lixo, nunca foi amada de verdade por ninguém, até gerar sua própria filha. E ao contrário de sua mãe, Susan tornou-se a mãe que ela gostaria de ter tido, amou, cuidou e a protegeu, evitando possíveis abusos dos homens de sua família.
A história de Susan me faz pensar no quanto é difícil você ter auto estima, quando todos dizem que você não é capaz, no quanto deve ser difícil seguir sua vida normalmente após ser abusada de todas as formas. Ela é um exemplo de mulher que conseguiu passar por cima de seus traumas e seguiu em frente, percebeu que tinha mais força do que imaginava, assim como eu e você, nós somos fortes, acredite nisso.
Carolina Ignaczuk Lima, responsável pelo conteúdo da Signativa
That’ 70s Show: é da década de 70 mesmo?
Recentemente, a Netflix enlouqueceu os nossos corações e liberou quatro, das oito temporadas, de “That’ 70s Show”. A série foi exibida entre 1998 e 2006, mas como o próprio nome sugere, acontece na década de 70. Questões polêmicas como política, drogas, sexo e feminismo são tratadas com humor, mas não deixam de ser fortes críticas sociais para a época. O mais curioso é que, os anos passaram, mas algumas coisas com certeza pararam no tempo.
O casamento machista, onde a mulher precisa viver em função do homem, ainda é uma realidade. A garota independente, que não aceita as atitudes grosseiras do namorado, é vista como a “louca que vai acabar sozinha e com 10 gatos”. O rapaz que demonstra sentimentos é chamado de garotinha, porque isso sim é um xingamento terrível, certo?
Em algumas situações, ainda nos vemos presas na década de 70. Nessa semana das mulheres (e em todas as outras), lute pela sua época. Lidar com o machismo é tão século passado.
Marina Melz, jornalista
Eu acredito no meio termo. A melhor visão, pra mim, é sempre aquela de cima do muro. Não acho que exista uma verdade absoluta que reúna num rol sagrado tudo o que faz sentido para a humanidade. Sentido é (também, veja só) unir razão e sentimento e, pode acreditar, somos mais de 7 bilhões de sentidos diferentes. Por isso escolhi essa música e essa intérprete. Pagu é um clássico exatamente porque realça a beleza de todas as mulheres: da freira à puta. Maria Rita é o ápice da sensualidade (óbvia ou não), da seriedade (sorridente ou não) e do talento (herdado ou não). Eu acredito que seria resumir demais a nossa personalidade enquadrá-la numa só caixinha num mundo que tão grande e oferece tantas possibilidades. Pior ainda fazer da prisão das opiniões prontas um lar de onde temos preguiça de sair. Pergunto, de novo e todos os dias: por que eu tenho que escolher entre flores e respeito, flores e igualdade, flores e direitos? Eu quero tudo. Porque assim como eu acredito na beleza do contraditório, também sei que cabem gentileza e protesto numa mesma mulher: https://youtu.be/9dQ0YW9UnaQ
Maria Clara Madrigano, escritora, jornalista e tradutora
A história do jogo Life is Strange é sobre viagem no tempo; a princípio. Max, estudante em Arcadia Bay, fotógrafa, descobre ter a habilidade de rebobinar certos eventos, impedi-los de acontecer. A revelação culmina em um reencontro com sua antiga amiga, Chloe, que está envolvida em um número de apuros. Juntas, elas usam as habilidades de Max para consertar injustiças, mas nada é tão simples: como nos mostra um dos temas do jogo, a borboleta, um simples bater de asas pode criar uma tempestade; para cada pequena ato de transformação, surge outro futuro, por vezes com consequências ainda mais desastrosas.Aí está a premissa básica. Mas a história vai além do sobrenatural: é sobre a amizade poderosa de duas garotas, o que não poderia ser mais importante quando vivemos num mundo em que é tão fácil colocar mulheres umas contra as outras, torná-las rivais. Palmas para a sororidade.
Camila Iara, jornalista
Séries com personagens femininas que mais me inspiram. Bora se inspirar também?
Jessica Jones
Subvertendo o estereótipo das heroínas que estão sempre à espera de um homem para salvá-las, a controversa personagem da Marvel – alcoólatra, cínica e traumatizada – pode até não parecer grande coisa à primeira vista. Mas adivinha só? Ela nem quer ser. Jessica Jones é uma mulher que não precisa se enfiar em um mundo masculino e vestindo roupas coloridas para ser mais forte, mais rápida, mais “macho” que seus vilões. É uma mulher que vive histórias femininas, em que a saída não se dá pela força. E mesmo tão forte e poderosa, ela é uma vítima de violência, sofrendo de estresse pós-traumático e tentando se recompor.
Masters of Sex
Baseada em fatos reais, a série narra a vida e o trabalho de William Masters e Virginia Johnson, um casal de cientistas que na década de 1950 foi pioneiro no estudo do ato sexual humano. O drama merece destaque principalmente pela abordagem à personagem feminina: moderna e progressista, Virginia enfrentou todos os preconceitos para ser quem ela era e fazer o que acreditava. Marginalizada apenas por ser a frente de seu tempo, ela discutia sexualidade naquela época como quem pede um hambúrguer na lanchonete. Sério, assistam!
Girls
Na grande selva que é Nova York, quatro amigas bem diferentes tentam encontrar seu caminho no mundo. Escrita, dirigida e estrelada pela incrível Lena Dunham, a série mostra com uma sinceridade doída como é crescer e amadurecer ao longo dos vinte e poucos anos. E aborda temas bem cotidianos da nossa geração, que vão desde as dificuldades de manter um namoro até o direito de abortar uma gravidez.
Orange is the New Black
Provavelmente o seriado com mais personagens femininas da TV estadunidense, OITNB conta histórias de mulheres reais que foram parar em uma penitenciária pelos mais variados motivos. Destaque para a diversidade: temos mulheres brancas, negras, magras, gordas, héteros, bissexuais, lésbicas, transsexuais… Ponto para o Netflix!
House of Cards
Há quem diga que Frank Underwood é o homem mais poderoso do universo de House of Cards, mas permitam-me discordar. Claire Underwood, esposa e comparsa do político, é a verdadeira dona da bola. Inteligente e implacável, a personagem desconstrói a si mesma perante o espectador de uma forma muito humana. Conforme a história avança é interessante vê-la sair do banco de carona e pegar o volante – tudo isso do alto de seus Manolo Blahniks.
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