Ah, esse mundo materno! – Maternidade

sabrina_100Coluna: MATERNIDADE

por SABRINA HOFFMANN
jornalista e mãe

Escrevo o primeiro texto desse espaço com um certo receio. Quando aceitei o convite (que me deixou muito agradecida e feliz), me propus a escrever sobre o lado B da maternidade e alguns desafios que essa jornada nos traz. Pela minha experiência como mãe que acompanha uma dezena de blogs sei que se arriscar a enfrentar aquela ideia de que ter filhos é lindo e perfeito pode trazer um problema: uma série de julgamentos de quem insiste em dizer que ser mãe é padecer no paraíso.

Bem, tire suas próprias conclusões.

É quarta-feira, véspera de feriado, 23h. Há mais ou menos uma hora venci o último desafio maternístico (sim, eu sei que essa palavra sequer existe) do dia. Minha filha de três anos, que chegou em casa com a energia de um jardim de infância inteiro finalmente dormiu. Eu poderia estar roubando, poderia estar matando assistindo um filme e tomando um vinho, mas dificilmente chegaria até o fim, dormindo na metade do enredo.

Isso porque, depois que chegamos em casa, lá pelas 19h, brinquei de escolinha, organizei uma festa de aniversário para a Analú (a boneca que faz xixi e molha toda a casa), recebi surpresas, como um cartão da odontopediatra no meu aniversário de mentira, comi papinha de faz de conta e assisti vídeos de gosto duvidoso em canais infantis do Youtube (se você se considera corajoso, te desafio a entrar no site e procurar alguns desses vídeos. Não venha querer pedir indenização depois).

Agora, acabei de comer dois mistos quentes, para depois colocar a culpa da barriga saliente no pós-parto (gente, já faz três anos, essa desculpa não cola mais). Pra amanhã, o marido, que no momento dorme na espreguiçadeira depois de não conseguir assistir um novo episódio de Pronto Socorro: Histórias de Emergência, já tem programação: colar a cabeça do Hans, que não resistiu às quedas do dia (não sabe quem é Hans? Joga “Frozen” no Google e voi lá).

sabrina_500Por esses e outros motivos não acredito que ser mãe – e pai – é padecer no paraíso, muito menos um comercial de margarina. Quando conversei com a Marta, da Gaspacho para Todos, sobre a ideia da coluna, comentei: ter filho é lindo, é um amor imensurável, nos faz mais completos. Mas é cada desafio, que só por Deus mesmo.

Quando estava grávida, achava que os livros tinham me dado know-how suficiente pra criar uma prole toda e que tiraria de letra essa história de ter uma criança em casa. A primeira lambada, que acabou com essa visão, foi o parto perfeito que nunca aconteceu. Fui pra faca, numa cesárea de emergência, e passei as semanas seguintes me arrastando e gemendo de dor, enquanto ouvia outras mães dizendo que se sentiam ótimas já nos dias seguintes à cirurgia (inveja branca define).

Atualmente, com uma terrible three (mais uma pro Google!) em casa, a cada birra no supermercado (“ah se fosse meu; filho”, eu pensava) eu sinto a dúvida pairando na minha cabeça. Afinal, somos bons pais? Estamos fazendo nosso papel?

A resposta, confesso, não tenho certeza. O que sei é que estamos fazendo o melhor que podemos, buscando do fundo do âmago uma dose tripla diária de paciência e perseverança. Ter filhos, sem dúvidas é, pra mim, a melhor coisa do mundo. É um amor que chega a doer, uma sensação de plenitude indescritível. Mas vou te contar uma coisa, viu. Tem dias, que só com uma ajudinha divina mesmo. Se eu trocaria pela vida de antes? JAMÉ.

2 Comentário

  1. Espera ter um filho fazendo birra fora, e outro dentro da sua barriga. haha 🙂 Boa sorte com a nova coluna.

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