Por Carla Caroline Tomaselli, arq. e Urbanista, Esp. em Gestão Técnica do Meio Urbano, Mestre em Desenvolvimento Regional, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional de Blumenau
Julio Cesar Refosco, Eng. Florestal, Mestre em Eng. Ambiental, Dr. em Ciências Humanas, Mestrado em Engenharia Florestal, Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Regional de Blumenau
Outro dia aprendemos algo sobre a democracia brasileira: diz André Botelho que a nossa democracia, muitas vezes, existe de direito, mas não de fato. Herança da forma patrimonialista que se estabeleceu com as Capitanias Hereditárias e que trazemos em nossa cultura política. Isto se liga à forma como se organizam aqui os valores públicos e privados, dando muito mais importância aos últimos em detrimento dos primeiros.
Sem querer discutir as manifestações das ruas desde 2013, nos chamam atenção as manifestações populares a respeito da árvore da Rua Henrique Hosang em Blumenau. Sim, a árvore chamada figueira (Ficus elástica) e que não é nativa e que não foi plantada intencionalmente para uma via pública, mas que ganhou notoriedade e importância na paisagem urbana do local e na vida das pessoais que por ali transitam ou moram.
Falou-se em mobilidade na defesa do corte. Nas primeiras vezes que circulamos ali, com o carrinho de bebê, ficamos chateados em ter que me espremer para passar, mas logo percebemos que a culpa não era da árvore, pois ela é muito anterior à via, e as vantagens em tê-la ali são maiores. Além disso, o índice de caminhabilidade em Blumenau é tão baixo que um ponto de estreitamento não significa quase nada frente a buracos, poças, desníveis, degraus, falta de pavimento, postes…encontrados facilmente em todos os bairros.
Então não seria melhor iniciar a solução dos problemas de mobilidade por outros pontos muito piores e urgentes da cidade?
Falando de custos. A atribuição de valor monetário é uma forma de comparar a importância de elementos que trazem em si uma avaliação subjetiva. Existem estudos que se propõem a valorar desta forma aspectos ambientais como uma árvore em via pública. Leal, Biondi e Rochadelli, pesquisadoras em ciências florestais avaliaram estes custos e chegaram à conclusão de que árvores de maior porte e crescimento mais lento apresentam maior custo, chegando a algo próximo R$20.000,00, aos 31 anos; e R$70.000,00 aos 50 anos. Lembrando que estes custos não envolvem aspectos subjetivos, como valor histórico ou paisagístico.
Estudos como este podem nos ajudar a tomar decisões, como por exemplo, decidir sobre a compensação da retirada de árvores.
Fica a pergunta: é justa a compensação estabelecida no TAC?
Sobre a resistência desta espécie. Houve duas tentativas de corte da árvore, mas ao final estas se configuraram apenas no corte de alguns grandes galhos. É uma característica notória da espécie Ficus elástica a resistência e fácil regeneração, de modo que é praticamente certa a sobrevivência desta árvore de 44 anos.
E o fato de ser uma árvore exótica? O fato dela não ser uma árvore nativa daqui, é da Ásia Tropical, não pode ser utilizado para decidir sobre sua retirada neste caso. Alias, o conceito de nativo e exótico deve ser usado com o necessário cuidado e quando pertinente, pois as fronteiras ecológicas não coincidem com as administrativas. As árvores das vias públicas são elementos para a urbanidade, desempenhando importante papel no ecossistema urbano e prestando diversos serviços ecossistêmicos.
Especialistas mostram que o papel das árvores em vias públicas ultrapassa o ecológico, gerando muitos outros benefícios, como a melhoria da saúde psicológica das pessoas, melhorias no microclima, produção de sombra, etc. Além disso, uma árvore em via pública pode se destacar em função de algum aspecto como raridade, história, localização, espécie ou porte.
Vamos ter humildade e aprender com bons exemplos? Temos muito a aprender com outras nações. Canadá, França e Austrália, por exemplo, apresentam soluções técnicas para aspectos incomuns do urbano, como é o caso de árvores de grande porte. Buscam-se soluções técnicas para manter as árvores quando houver interesse da comunidade. Dado que aqui há interesse, ainda que não consensual, em manter a figueira, em quais soluções técnicas se pensou antes do corte?
A lei é clara sobre a largura do passeio. Mas e como ficam os demais casos de infração do mesmo dispositivo em nossa cidade? Serão todos resolvidos? E, retirando-se a figueira, o passeio ficará com 2,40m e não com 2,50m, essa irregularidade também é culpa da figueira?
Sob nosso ponto de vista, como cidadãos, moradores do bairro Victor Konder, arquiteta e urbanista, engenheiro florestal e pesquisador de ecossistemas urbanos, não vemos dentre os que identificamos pela imprensa, até o momento, suficientes argumentos para retirada da figueira da Henrique Hosang.
Be the first to comment