Após a flexibilização das medidas de prevenção contra o coronavírus, o Brasil voltou a registrar um aumento nos números de Covid-19 nas últimas semanas. Entre os dias 22 e 28 de maio, o país teve a pior semana epidemiológica de casos da doença desde março deste ano. A incidência de casos ocorre, principalmente, nos estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Contudo, o crescimento de mortes por Covid não subiram na mesma proporção. Desde o início da pandemia, o mês de maio de 2022 foi o período com menos óbitos registrados. Segundo levantamento feito pela Agência CNN Brasil, com dados das Secretarias de Saúde, maio teve 3.179 mortes por Covid. Em abril de 2021, que foi o pior mês, 81.266 pessoas foram vítimas fatais da doença.
De março de 2020 até agora, o Brasil já registrou mais de 31 milhões de casos de Covid-19 e mais de 666 mil mortes relacionadas ao vírus.
Somente nos cinco meses de em 2022 foram 8.693.140 pessoas infectadas pela doença e 47.620 óbitos contabilizados. Boa parte desses registros aconteceu no primeiro trimestre do ano, quando a variante Ômicron, que foi identificada em novembro de 2021, se espalhou pela população. A cepa foi classificada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por conta da alta transmissibilidade.
Na época, o país chegou a registrar 1.305.447 contaminações em uma semana (de 23 de janeiro a 29 de janeiro). Após o pico da Ômicron, o país viu uma queda no número de infecções, que começou entre os dias 13 e 19 de março, quando o país registrou 267.132 casos.
A média móvel semanal de casos chegou a atingir 96.513 entre os dias 15 e 21 de maio. Agora, no entanto, o número saltou para 166.777 (considerando o período entre os dias 22 e 28 de maio).
À CNN, Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), professor, pesquisador e médico Infectologista da Unesp, disse que alta de casos pode ser justificada “por uma super disseminação por conta da completa abolição das medidas de proteção, inclusive o uso de máscaras em ambientes fechados”.
Contudo, o infectologista destaca que a situação não está sendo acompanhada de forma direta com um crescimento correlato em termos de internação e óbitos. “Justamente por conta dos efeitos protetores das vacinas quanto aos desfechos graves, como hospitalizações e óbitos. Mas, claramente as vacinas não têm a mesma eficácia contra a Ômicron como tinham contra outras variantes em termos de [conter] transmissão”, afirma.
Outro fator que pode ter contribuído para o aumento nos registros é a disponibilidade dos autotestes.
Naime Barbosa avalia que esse aumento de casos acontece porque a população diminuiu a percepção de risco. “As pessoas acham que, como estão vacinadas, não precisam tanto de maiores cuidados. Antes, elas procuravam a testagem com qualquer sintoma”, afirmou.
Aumento de casos por estados
São Paulo é o estado que mais registrou casos de e óbitos de Covid-19. Ao todo, até quarta-feira, 1º de junho, a unidade federativa havia acumulado 169.331 mortes e 5.520.290 infecções da doença.
Em 1º de maio, SP registrou 2.724 casos de Covid em 24 horas. Já no último dia do mês, foram 8.421 novas infecções –um aumento de 209,1%. A média móvel, que considera os últimos sete dias, ficou em 5.651 no estado na quarta-feira. Em 1º de maio, o indicador estava em 4.086.
O crescimento de contaminações fez com que o Comitê Científico do coronavírus no estado recomendasse o uso de máscaras em locais fechados novamente.
Em segundo lugar, o estado que mais acumula infecções é Minas Gerais, com 3.415.691 casos, seguido do Paraná, com 2.529.375 casos.
Em Minas, a média móvel de casos na quarta-feira marcou 4.045. Um mês antes, em 1º de maio, a média foi de 702. Paraná teve a média móvel de infecções em 4.495 no primeiro dia de junho –30 dias antes, o índice ficou 1.936.
O Rio de Janeiro, segundo estado que mais acumula mortes (73.830), viu a média móvel de casos de Covid mais que dobrar em um mês. No primeiro dia de maio, o indicador marcava 1.233. Já em 1º de junho, a média móvel foi 2.952.
No Centro-Oeste, Goiás ficou com a média móvel de casos em 2.486 em 1º de junho. Um mês antes, a média foi 1.201. Mato Grosso do Sul, que tem 585.083 infecções acumuladas desde o início da pandemia, teve média móvel em 353 nesta quarta. Em 1º de maio, o indicador marcava 135.
Os estados do Nordeste e do Norte não tiveram o mesmo impacto que o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O indicador móvel de infecções ficou em 299 nesta quarta-feira na Bahia. Em 2 de maio, o índice marcou 264. Roraima, por exemplo, teve média móvel marcando 17 em 1º de junho e 9, em 1º de maio.
Além de levar em consideração a população dos estados, o vice-presidente da SBI disse que falta também um plano de testagem em massa nesses locais.
“Falta uma política única de enfrentamento da pandemia. Um plano central de testagem, de isolamento, linhas de cuidado”, afirmou.
Subnotificações
Segundo o infectologista, as subnotificações dos estados, principalmente aqueles mais pobres atrapalham o entendimento sobre o momento exato da pandemia no país.
“Infelizmente quanto mais pobre o local, menos detalhe vai ter. Não há motivo nenhum para que esses locais [Norte e Nordeste] tenham menor taxa de transmissão do que em outros locais no país. Isso não é efeito da vacina, é efeito de subnotificação”, afirma.
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