Por Felipe Schultze – Bacharel em Direito
Existem discursos e discursos.
Há o velho compromisso de campanha, geralmente improvisado a toque de caixa que existe para entusiasmar os eleitores fiéis e angariar novos simpatizantes, e, obstante disso, existem compromissos inegociáveis da república Brasileira. Tais compromissos podem não ser proferidos para multidões, mas são firmados silenciosamente após o candidato sujeitar-se ao serviço público. Dessa forma, é necessário que o governo, durante a longa extensão de desafios que enfrentará, não perca as bases da república . Estas bases são um manto protetor nas tarefas rotineiras de nosso povo. As bases que refiro-me são compostas pela democracia, pelos direitos humanos e pela distribuição de renda. São essas bases que, caso não sejam cumpridas, interferem diariamente na vida dos trabalhadores que saem todo o dia de manhã para pegar o ônibus cheio a caminho do trabalho e nas crianças que querem usar todo seu potencial, mesmo que a estrutura escolar não seja a mais propícia.
Estas bases formam um lume luminoso que é direcionado por nossa constituição e foram objetivadas em cada governo após a redemocratização. O que vale para a nossa vida também vale para os altos cargos do governo. Manter o Brasil, um país forte e próspero, apresenta o difícil trabalho de tomar decisões. Tais decisões não podem suprir as nossas garantias. Não pode-se suprir a distribuição de renda para uma eventual retomada no crescimento ou diminuir os direitos humanos em face da segurança pública.
Dessa forma, não é aceitável qualquer medida que diminua os direitos e garantias fundamentais/sociais. Não pode ser permitido qualquer flerte ou namoro com o autoritarismo e o totalitarismo. Também não nos deixemos persuadir ao fácil discurso liberal que confunde, e em alguns casos iguala, o liberalismo econômico irrestrito com governos democráticos. O caminho seguro a se seguir é usar a ampliação da participação popular e dos direitos humanos como forma de revolução social. Qualquer governo ultrapasse as regras do jogo democrático traduz incerteza e gera a intolerância típica dos governos ditatoriais.
As decisões não podem ser realizadas através de aparato ideológico ou feitas de formas emotivas. O Brasil é uma nação diversificada e desigual que precisa ser governada para todos e não para um grupo de eleitores. Perder os objetivos descritos acima, é perder nossa identidade constitucional.
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