O preço médio da cesta básica no Brasil, hoje de R$ 663,29, representa cerca de 55% do salário mínimo de R$ 1.212.
As informações são de um levantamento produzido pela CNN com base em dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que levou em conta o valor dos alimentos em 16 capitais do país, desde 1998, e comparou com o respectivo salário mínimo de cada ano.
De acordo com o levantamento, este ano acumula o maior percentual atingido desde 2004, quando a cesta básica consumia uma parcela de cerca de 58% do salário mínimo.
Na época, o rendimento básico era de R$ 260 e os alimentos somavam, em média, R$ 150,72.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que produz o medidor da inflação no Brasil, o IPCA, apontam que o grupo de alimentos e bebidas costuma representar mais de 20% do orçamento doméstico.
Entretanto, o professor Alberto Ajzental, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que para famílias mais pobres, com ganhos entre um e cinco salários, os gastos com alimentação chegam a somar até 35% dos ganhos.
“Quando a alimentação ocupa um espaço maior do salário, significa que estão perdendo poder de compra. Ou seja, elas dão preferência para os alimentos e gastos básicos, e sobra menos dinheiro para consumir. Então gasta mais em alimento, mas gasta menos com locomoção, cultura, educação, vestuário. No fim das contas, a população mais pobre fica desassistida”, afirma o economista.
Ainda segundo o levantamento, nos anos de 2012 e 2018, a cesta básica atingiu o menor custo em relação ao salário, chegando a representar 40% do ganho mensal.
Em 2012, a cesta custava em média R$ 248,36, enquanto a remuneração básica era de R$ 622,00. Já em 2018, o salário mínimo era de R$ 954, e a cesta básica média cerca de R$ 386,20. Já a partir de 2019, o percentual passou a subir.
Segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, o Brasil tem atualmente 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer.
São 14 milhões de brasileiros a mais em insegurança alimentar grave em 2022, na comparação com 2020, como consequência da pandemia da Covid-19.
Para Ajzental, a questão da insegurança alimentar no Brasil é urgente e é preciso uma intervenção do poder público para garantir as condições mínimas ou mais básicas de sobrevivência para essa população.
“Acredito que a gente, como nação, está falhando nisso”, completa.
Outro viés da perda do poder de compra é o efeito a longo prazo da educação dos mais jovens.
Alberto Ajzental avalia que familias em situação de vulnerabilidade tendem a inserir os jovens cada vez mais cedo no mercado de trabalho, comprometendo o futuro educacional das próximas gerações.
“Através da educação formal que esses jovens teriam uma chance de quebrar o ciclo, mas eles têm que ir cedo pro mercado de trabalho. Então todo mundo tem que trabalhar desde cedo pra fazer frente as altas despesas. Isso é a perpetuação da miséria, porque quando você consegue dar o básico, um filho consegue estudar e quebrar o ciclo”, finaliza o professor.
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