Antes de começar a sessão da Câmara Municipal nesta terça, a oposição comemorava a possibilidade de sair a primeira Comissão Parlamentar de Inquérito depois de cerca de 15 anos. No calor da intervenção na Glória e no Consócio Siga, o pedido de CPI contava com as cinco assinaturas para que os vereadores pudessem abrir a caixa preta do transporte coletivo de Blumenau. Além de Ivan Naatz (PDT), autor, os três vereadores do PT e Oldemar Becker ( sem partido) assinaram o pedido.
Mas do nada ( ou talvez, com muitos motivos por baixo dos panos), o glorioso Becker mudou de opinião e retirou a assinatura, alegando que a Prefeitura estava intervindo no sistema e então daria um voto de confiança nos próximos trinta dias. Como o pedido já havia sido despachado pelo presidente Mário Hildebrandt (PSB), há uma dúvida jurídica se o vereador poderia ou não retirar. O assunto já está nas mãos do procurador Denio Scotini e terá um encaminhamento até a sessão desta quinta.
O vereador Becker dança conforme a orientação da Prefeitura. Eleito pelo PPS, oposição à administração Napoleão Bernardes (PSDB), conseguiu garantir algumas indicações no Poder Público. Hoje o partido que o ajudou para elegê-lo briga para cassá-lo, por infidelidade partidária.
Sobre a postura do Becker não vou tecer mais comentários, mas é a imagem do fisiologismo da política. Tentei falar com ele nesta quarta-feira pela manhã para entender os argumentos, mas não consegui. Com relação a CPI em sim, duas análises. Penso que a oposição não está e não estava preparada para uma investigação deste porte. Em véspera de ano eleitoral, serviria mais de palanque político do que resultados concretos. Por outro lado, é estranha preocupação da Prefeitura em não abrir esta caixa preta, expressa claramente e posição da maioria dos vereadores que fazem parte da base governista.
Não do jeito que está colocado, mas perde-se uma grande oportunidade. Os problemas no transporte coletivo vêm de anos, passou por várias administrações. A responsabilidade não é somente deste governo, mereceria uma apuração séria e transparente. Mas não interessa, lembrando que as empresas de ônibus já foram importantes financiadoras de campanha eleitoral e continuam com potencial para tanto.
Só tem medo de CPI em ano de eleição aquele que deve alguma coisa. Blumenau precisa sim abrir a caixa preta do transporte coletivo.
E deixar o Denio Scotini decidir se o Becker podia ou não retirar a assinatura é o mesmo que deixar o lobo mal cuidando da vovózinha.