A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia ouviu nesta quinta-feira, 13, o presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Em 2020, quando a farmacêutica entrou em contato com o governo brasileiro para oferecer sua vacina contra Covid-19, Murillo era presidente da empresa no Brasil.
A CPI também havia convocado Marta Díez, atual presidente da empresa no Brasil, mas a Pfizer pediu que Murillo fosse em seu lugar para “esclarecer os fatos relacionados às negociações com o governo federal” já que Díez assumiu o cargo apenas em fevereiro de 2021.
Antes da oitiva da Pfizer, os senadores iniciaram o trabalho da CPI por volta das 9h45 para tratarem assuntos internos da própria comissão – como questões de ordem e outros questionamentos feitos pelos senadores.
A oitiva com o presidente regional da Pfizer começou pouco antes das 10h30, com um breve relato por parte dele sobre a atuação da empresa no combate à pandemia e terminou às 16h.
Em novembro, Guedes pediu para Pfizer oferecer mais doses
Questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) sobre uma eventual conversa com o ministro Paulo Guedes, por telefone, sobre as vacinas contra Covid-19, o representante da farmacêutica afirmou que o chefe da Economia pediu mais doses de vacinas.
“Nessa reunião que fiz por ligação com senhor Fábio [Wajngarten], ele me solicitou a aguardar e [perguntou] se [eu] podia continuar na ligação – ele comentou que estava entrando na sala do presidente e [pediu] que eu repetisse o que tinha dito a ele previamente”, detalhou o presidente da empresa na América Latina.
“Repeti e disse que estávamos com oferta e negociações com o Ministério da Saúde. O ministro Guedes perguntou quantitativo. Eu comentei e ele solicitou que nós aumentássemos o quantitativo. A reunião terminou”, completou.
Ele disse ainda que entre maio e novembro, até o telefonema intermediado pelo ex-secretário de Comunicação, nem Guedes nem o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tinham conversado diretamente com a Pfizer.
“Não tivemos conversação com os ministros nesse período (…) Somente com equipe técnica.”
Em esclarecimento à CPI da Pandemia, o presidente da Pfizer na América Latina informou que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o Assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, participaram de uma reunião, em 7 de novembro, no Palácio do Planalto para esclarecer entraves legais à compra da vacina da empresa.
“Após uma hora de reunião, Fabio [Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência] recebeu ligação, saiu da sala e retornou para a reunião”, afirmou Murillo.
“Minutos depois, entram na sala de reunião Felipe Martins e Carlos Bolsonaro. Fabio explicou a Martins e a Carlos os esclarecimentos prestados pela Pfizer até então na reunião”, completou.
Ele afirmou que o filho de Bolsonaro deixou a reunião pouco depois. Já o assessor do presidente permaneceu até o fim do encontro, pouco tempo depois. Martins ressaltou ainda que não participou pessoalmente desse encontro e que as informações lhe foram repassadas pela diretora-jurídica da Pfizer.
Murillo confirma contato de Wajngarten com CEO da Pfizer
De acordo com o relato do presidente da Pfizer na América Latin, ele foi informado pela matriz da empresa que o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten tentou contatar o CEO da farmacêutica, Albert Bourla, por e-mail e telefone.
Com a confirmação de que Wajngarten era, de fato, funcionário do governo, Carlos Murillo foi orientado a falar com o ex-secretário por ser o responsável pela região.
Pfizer não obteve resposta do governo Brasileiro
Murillo afirmou que a primeira oferta feita pela Pfizer era vinculante e tinha validade de 15 dias. “Passados esses 15 dias, o governo do Brasil não rejeitou e nem aceitou a conversa. Não tivemos resposta”, disse ele, ao ser questionado pelo relator da CPI sobre essa questão.
“Depois dessas ofertas, em 12 de setembro, nosso CEO enviou uma comunicação ao Brasil indicando nosso interesse em chegar a um acordo (…) dirigido ao presidente Bolsonaro e outras autoridades”, completou.
Ele detalhou que, além do presidente, receberam cópia do documento o vice-presidente, Hamilton Mourão, o então ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao embaixador do Brasil nos EUA, Nestor Forster.
“Todas as propostas que mencionei anteriormente foram formalizadas em documentos enviados ao ministério da saúde. A carta, em si, não é considerada por nós uma oferta.”
Seja o primeiro a comentar