Coluna: MATERNIDADE por SABRINA HOFFMANN jornalista e mãe
Está aberta oficialmente a temporada de apresentações escolares. E com ela uma enxurrada de vídeos e fotos desfocadas compartilhadas à exaustão nas redes sociais de pais orgulhosos e emocionados com o desempenho das crias. Quem não tem filho dificilmente entende essa necessidade de mostrar a criança que mal anda chorando em cima do palco como se estivesse com o mesmo desempenho da Fernanda Montenegro.
O fato é que nós, pais babões, olhamos para essa cena e percebemos que a nossa obra prima está em pleno desenvolvimento: se dedicando e mostrando que começa a caminhar com as próprias pernas. E a gente passa por uma mistura incrível de sentimentos. É o orgulho de ver aquele ser antes tão frágil e dependente começando a trilhar caminho solo e, em contrapartida, a síndrome do ninho vazio batendo à porta.
Toda vez que olho pra minha filha, que do alto dos seus quase quatro anos ensaia independência em diversas atividades, me pego pensando: quando foi que ela cresceu? Em que momento começou a não precisar mais de mim? Onde eu estava quando ela aprendeu isso?
Essa mistura de sentimentos, evidenciada nos perfis de facebook, só mostra que não estamos preparados para ver nossos pequenos crescerem. Somos a geração de pais super preocupados, super dedicados, super protetores. Somos adultos que choram na apresentação infantil, brigam para estar na primeira fileira do auditório, batem palmas de pé e compartilham com conhecidos e desconhecidos a performance dos filhos. E se você é amigo de verdade, vai dar um like. E elogiar. “Que lindo!” é o mínimo que esperamos.
A gente não está negligenciando a segurança deles. Não ouse duvidar do nosso cuidado. Às vezes pecamos, é verdade. Nossos filhos vão sentir vergonha do que postamos, não há dúvidas. Mas de que adianta criarmos essas coisicas tão fofíneas se não pudermos mostrar para o mundo?
Lembre-se de que os nossos pais não tinham acesso à internet e a única maneira de nos envergonhar era mostrar aquela foto da banheira para as visitas. O grau de exposição mudou, mas o sentimento é o mesmo. Quando temos filhos, o botão muda de lado e passamos a ter as mesmas posturas que tanto criticamos. Já estou me preparando para ouvir um “para de me envergonhar” ou um “você é quadrada”.
Então, fica aqui um pedido. Tenha paciência com os amigos que insistem em postar cada passo dos filhos, em mandar um turbilhão de vídeos e fotos. A gente ultrapassa limites porque ama demais e não consegue segurar o orgulho, que, de alguma forma estamos alcançando o sucesso na difícil missão de criar filhos.
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