Quando a estudante Eliana Baron, do SENAI em Guabiruba, decidiu aplicar um QR Code que, ao ser lido por um celular com câmera, informa a descrição da peça de roupa para o deficiente visual, não imaginava que seria a campeã do Prêmio Brasil Sul de Moda Inclusiva. O desfile que contou com a apresentação de 60 modelos voltados para pessoas com deficiência ocorreu na noite desta quarta-feira (28), em Florianópolis. Marco Antônio de Faria Filho, aluno do SENAI em Brusque, conquistou o terceiro lugar no prêmio. A iniciativa está em sua sexta edição e é promovida pelo SENAI e o Instituto Social Nação Brasil.
“Minha primeira inspiração foi o espaço. As roupas foram criadas especialmente para deficientes visuais que, mesmo não podendo ver o mundo como nós, eles enxergam à sua maneira”, contou Eliana. Ela procurou solucionar problemas como a identificação da cor da roupa a ser usada pelo cego. “Um deficiente visual não consegue saber que cor é aquela roupa que ele vai vestir, não tem autonomia na hora de vestir, nem na hora de comprar. Por isso apliquei uma etiqueta com leitor de QR Code e desenvolvemos um aplicativo que faz a leitura”, detalhou a estudante que ganhou 80 metros de tecido da Renaux View, estágio por uma semana na empresa para criar a própria coleção e as etiquetas para aplicar em três coleções, oferecidas pela Haco, além de licença para aplicações desenvolvidas pela Audaces.
Surpreso ficou também Marco Antônio, que é estudante do curso de elétrica no SENAI de Brusque. Sua coleção foi inspirada na primavera e buscou resolver dificuldades que pessoas com deficiência têm ao se vestir. “Procurei criar peças que facilitem colocar e tirar de forma autônoma a roupa. Muitos têm dificuldade com isso, principalmente quem usa prótese”, falou.
Histórias de superação
Rafael Moreira, de 15 anos, nasceu sem a mão direita, Iasmim de Souza tem catarata congênita (possui apenas 2% da visão do olho esquerdo), Valdete Ristoff amputou a perna direita ao descobrir um câncer no pé aos 42 anos. Estas e dezenas de outras histórias de superação puderam ser observadas no desfile do Prêmio Brasil Sul de Moda Inclusiva.
Foi pensando em soluções para facilitar a vida deles que estudantes do SENAI criaram peças personalizadas. O macacão usado por Iasmim, por exemplo, foi criado pela Bárbara Chaves, de apenas 15 anos, que cursa aprendizagem industrial em desenhista de produtos de moda. “Com a ajuda de estudantes do curso de programação de computador e eletricista de manutenção, criei um macacão com sensores nos ombros que alertam quando a pessoa se aproxima demais de alguma coisa, evitando uma queda ou uma colisão”, contou. A peça possui ainda diferenciais que auxiliam o usuário a identificar pelo tato qual é o lado de trás da roupa. “Apliquei renda nas costas para ajudar a identificar como usar o macacão”, acrescentou.
Camila de Souza, de 16 anos, tem uma avó que usa cadeira de rodas, por isso desenvolveu roupas para pessoas que dependem desse veículo para se deslocar. Um dos elementos mais pesquisados pela estudante foi o tecido usado na confecção das roupas. “Às vezes o tecido gruda muito e a pessoa precisa se sentar para se vestir. Por isso fiz calças bem soltas, fáceis de se vestir. Optei por sarja e malha, além de outros tecidos que não comprometem a mobilidade. As pessoas precisam ser autônomas”, afirmou Camila.
A atriz Juliana Caldas, que tem nanismo, foi uma das juradas do prêmio e afirmou que o preconceito é uma das principais barreiras a se vencer. “Precisamos ter mais empatia pelo outro, olhar mais o próximo e entender que nós merecemos respeito”, frisou.
Além dos seis projetos apresentados pelo SENAI, outros 14 participaram do desfile. Confira o resultado:
1º lugar: Eliana Baron, do SENAI de Guabiruba
2º lugar: Nicole de Freitas, da Unisul Campus Florianópolis
3º lugar: Marco Antônio de Faria Filho, do SENAI de Brusque
4º lugar: Milena Fernandes, da Univates de Lageado (RS)
5º lugar: Andréa Fischer de Souza, da Universidade Feevale, de Esteio (RS)
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