Aroldo Bernhardt
Professor
Na concepção original a Política é a dimensão do bem-comum e deveria se orientar pela razão substantiva (assentada em valores éticos). Com o advento da Modernidade, entretanto, todas as dimensões da vida humana associada, inclusive a Política, se renderam à lógica do Mercado (razão calculista ou objetiva).
E, a partir daí o bem-comum sempre declarado como desiderato da Política, pôde até eventualmente ser atendido, desde que não atrapalhasse os projetos de poder. Por isso há quem acredite que a política é o valhacouto da corrupção. Mas a coisa não é assim tão simples.
A corrupção não é um fenômeno exclusivo de um período histórico, sistema econômico, ideologia ou partido. Também não é exclusivo do nosso país. Tratar desse tema, apontando o dedo em riste em atitude acusatória e acrítica pode até recrudescer a própria corrupção. O enfrentamento à corrupção implica prudência porque pode atender a muitos propósitos, legítimos ou não, justos ou não, bem como servir ao discurso moralista e às propostas demagógicas. O Brasil já vivenciou experiência desse tipo.
Há quem afirme que o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo. Quem faz essa afirmação desconhece ou omite que situações como a manipulação do subprime nos EUA e a crise financeira de 2008 que se seguiu foram consequências de corrupção acobertada ou tolerada (e com impactos globais).
Também não falam que a lavagem do dinheiro promovida em paraísos fiscais, muitos em países do chamado “primeiro mundo” e praticada com engenharia tributária para não pagar impostos ou para ocultar recursos oriundos da corrupção, droga, terrorismo, tráfico de armas é corrupção em grande proporção e praticada em rede.
E quanto à sonegação que drena recursos públicos, roubados portanto da população? Corresponde a R$ 500 bilhões/ano! E os moralistas “justificam” que o fazem por causa da elevada carga tributária. De fato uma reforma tributária é urgente, mas que seja orientada para uma justiça tributária. Quem mais paga impostos no país é a classe assalariada.
Há muitas formas de corrupção, muitas dissimuladas ou culturalmente toleradas. Há também diferentes interpretações em diferentes países. Nos EUA o lobby está disciplinado, daí que muita coisa que lá é praticada, aqui no Brasil é crime (se bem que depende de quem o pratica, porque aqui a justiça é seletiva, aliás, isso é outra forma de corrupção).
Enfim, precisamos entender que a corrupção é, infelizmente, mais ampla do que o senso comum admite. Etimologicamente, o termo “corrupção” surgiu do latim corruptus, que significa o “ato de quebrar aos pedaços”, ou seja, decompor e deteriorar algo. Assim deteriorar o equilíbrio econômico de um país, jogar um povo de volta ao desemprego, à fome; solapar as riquezas nacionais e tudo o mais que o governo Temer, ilegítimo e teleologicamente inepto vem fazendo é, sim, ato de corrupção.
Tomemos a questão do petróleo e da Petrobrás, brilhantemente resumida pelo economista Márcio Pochmann: “a crise do combustível revela abandono da soberania nacional. A liberação dos preços engordou dividendos de acionistas, reduziu o compromisso com refino interno do petróleo e repôs a dependência do diesel e gasolina importados dos EUA, além da entrega do pré sal aos estrangeiros”.
Quebrar um país, deixa-lo aos pedaços é o maior ação de corrupção da História do Brasil! Fora Temer! Eleições diretas e livres!
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