Faz frio – e eu nem estou falando do clima

marina_melz_100x100Coluna:

MARINA MELZ
jornalista

Estava a caminho de uma reunião passando pela Praça Dr. Blumenau quando me deparo com uma jovem senhora sentada no banco, chorando ao ponto de faltar ar. Ela não suspirava alto, nem parecia desesperada. Apenas chorava. Muita gente indo e voltando, carros na rua, mil pombos ao redor. Cachecois, luvas, gorros. Muita gente assoprando as próprias mãos para tentar amenizar o frio.

Ninguém parecia olhar pra aquela mulher que silenciosamente gritava para ser ouvida.

Sempre que vejo uma situação como essa, demoro a tomar uma decisão. Será que a pessoa quer ser incomodada? Será que perguntar o que houve não vai fazer o problema aumentar? E se eu não puder fazer absolutamente nada pra mudar? Tenho uma amiga que diz que é combinação astral, meu namorado chama de síndrome de Madre Teresa. Mas eu não ficaria em paz se a deixasse em paz.

A jovem senhora estava com fome. Tinha deixado a filha maior acompanhando a menor – internada há dois meses – perto do almoço para que a primogênita tivesse direito ao almoço. A jovem senhora estava desesperada. Teve que largar o emprego para cuidar da bebê e agora encarava um requinte de crueldade do destino: uma alergia devastadora das fraldas comuns deixava a pequena ainda mais doente.

A minha pressa foi comida pelos pombos. Levei-a até um restaurante próximo e deixei que comesse. Passei na farmácia e comprei um pacote das fraldas mais valiosas e ao mesmo tempo mais baratas da minha vida, entreguei nas mãos dela que tremiam de frio e de emoção. Abracei a jovem senhora, que não chorava mais. Exibia um sorrisinho de canto de boca, desejou que Deus me abençoasse e que eu nunca precisasse passar por aquilo.

Voltei aos meus passos (agora ainda mais rápidos) certa de que todos os homens que passavam apressados, os carros que buzinavam sem parar e até os que reparavam mais nos pombos do que nas pessoas passaram frio.

Tolos! Perderam a chance de, com cerca de 5°C, transbordar de tanto calor.

4 Comments

  1. Parabéns Marina, atos como estes são raros , são feitos de coração e merecem sempre ser elogiados . Bondade e carinho nos tempos atuais são para pessoas de bom coração .E vamos ser honestos, faz um bem incalculável , não só para quem precisa , mas para quem faz ,sem nada esperar em troca , faz porque o coração fala mais forte .

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