Coluna: MATERNIDADE por SABRINA HOFFMANN jornalista e mãe
Nunca me esqueço do dia em que uma amiga comentou comigo sobre não saber como eu dava conta de conciliar casa, trabalho, filho, “ainda mais com marido viajando com tanta frequência”. Primeiro porque sorri com cara de paisagem pensando: “quem disse que dou?”. Segundo, porque realmente acho que sou a mais comum de todas as mães, sem nenhum requisito pra ocupar o cargo da super-progenitora do ano.
E confesso que sempre me incomoda o fato de que mulheres que precisam carregar nos ombros responsabilidades que não são só suas serem vistas como incríveis. Não que não sejam. Mas o fato de estarmos sempre pintando aquela avó que criou sei lá quantos filhos, além de cuidar da casa e depender do marido, um ser de caráter duvidoso, como uma heroína, faz com que acabamos aceitando o fato como normal.
Enquanto isso, sob um rótulo que atravessa gerações, vemos mães aceitando serem diminuídas por seus companheiros, engolindo goela baixo desaforo de chefe machista, sofrendo agressão verbal e física porque não podem dar ao luxo de ter alguém ao seu lado para dar um basta nesse círculo vicioso.
Ao que me consta, mãe não faz filho sozinha – exceto em casos isolados, em que a mulher decide trilhar esse caminho. Filho é de responsabilidade de duas pessoas – pelo menos!
E no Dia das Mães, data que coincidentemente é comemorada junto com o Dia da Casa – já reparou na quantidade de liquidificador e panela na promoção? – nada melhor do que quebrar um bom e velho clichê. Mulher que enfrenta tudo sozinha não é só guerreira: é também vítima de uma sociedade que realmente acha que ela não está fazendo mais que a obrigação. E que está tudo bem o pai aparecer de vez em quando, e pagar uma pensão que não cobre nem os custos básicos de uma criança.
Tenho tido a oportunidade e a benção de conviver com uma quantidade imensa de pais de verdade e mães que não são guerreiras. Mas sim protagonistas na própria vida e na dos filhos. Pra mim e pra maioria delas, Dia das Mães é todo dia. Assim como o Dia dos Pais. Porque família – seja ela a formação que tiver – é baseada em compartilhamento. De tarefas, de amor, de deveres e direitos. É igualdade, apoio.
São mulheres que lutam por uma maternidade real, por divisão justa de tarefas, espaço no mercado de trabalho. Elas sabem que os filhos terão muito mais orgulho do papel que estão desempenhando do que se elas aceitassem o rótulo de guerreiras e se calassem em relação a esse velho e odioso clichê. A todas elas, meu abraço. Estamos juntas!
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