Cerca de 82% das mais de 2 mil espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica sofrem algum risco de extinção, segundo um estudo publicado pela revista Science no dia 11 de janeiro. O artigo que sintetiza um estudo que se estendeu por mais de 2 anos foi coordenado pelo pesquisador Renato Lima, da Universidade de São Paulo (USP) e contou com a colaboração de dois professores da Universidade Regional de Blumenau (FURB): André Luís de Gasper, do Departamento de Ciências Naturais; e Alexander Vibrans, do Departamento de Engenharia Florestal.
Parte da pesquisa coordenada por Renato Lima, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba (SP), é fruto de seu pós-doutorado no Instituto de Biociências da USP, financiado com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Além do coordenador do projeto e dos dois pesquisadores da FURB, a iniciativa envolveu mais sete pesquisadores do Brasil e do exterior. Esta é a primeira vez que todas as populações das quase 5 mil espécies arbóreas da Mata Atlântica tiveram seu grau de ameaça avaliado conforme os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), maior referência global em espécies ameaçadas.
Mais de 3 milhões de registros de herbários e inventários florestais foram considerados, com riqueza de detalhes sobre as espécies, uso comercial e grau de aumento ou redução de sua população existente na Mata Atlântica. Como o bioma inclui Santa Catarina, e consequentemente Blumenau, as estatísticas do programa FlorestaSC (Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina), que envolve a FURB, foram consideradas pelo estudo.
“Esse artigo é extremamente importante como política pública. Foram mais de dois anos de desenvolvimento do trabalho e depois mais dois anos entre submissão e revisão” explica André Luís de Gasper.
No estudo, foi realizada uma avaliação geral de todas as espécies de árvores da Mata Atlântica, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, com a classificação de graus de ameaça e extinção, conforme o pesquisador da FURB, o que torna possível estabelecer políticas para conservação ambiental.
“A gente quer saber o grau de ameaça para fazer políticas de conservação, categorizar aquelas que são vulneráveis, em perigo e criticamente em perigo, que é a escala mais grave de ameaça, de extinção, e assim poder direcionar melhor os recursos para tentar conservar essas espécies. (…) E essa é a inovação desse trabalho. A gente conseguiu calcular qual foi a estimativa de redução de tamanho da população, ou seja, quantos indivíduos a menos. Isso coloca boa parte das nossas espécies em ameaçadas de extinção por conta do desmatamento que ocorreu no passado e que ainda se reflete nos dias de hoje. Então esse trabalho é extremamente importante porque agora a gente tem uma noção do grau de ameaça das nossas espécies de árvores, apenas de árvores, de toda a Floresta Atlântica”, afirma Gasper.
Números impressionam
Do total de 4.950 espécies arbóreas presentes no bioma (incluindo as que ocorrem também em outros domínios), 65% estão com suas populações ameaçadas de alguma forma. Quando são analisadas as espécies endêmicas, ou seja, exclusivas da Mata Atlântica, o percentual de ameaça de extinção sobe para 82%.
Outro dado que assusta é que apenas 7% das espécies endêmicas tiveram declínio populacional abaixo de 30% nas últimas três gerações, indicando uma tendência de piora no desmatamento no Brasil. A classificação internacional IUCN já considera que, acima desse patamar, a espécie já pode ser considerada “Vulnerável”, que é a primeira categoria de ameaça de extinção. Acima dessa, estão “Em Perigo” e “Criticamente em Perigo”.
Entre as espécies ameaçadas, 75% delas estão na categoria “Em Perigo”. O pau-brasil, típico do bioma, foi listado como “Criticamente em Perigo”, dada a redução estimada de 84% da sua população. Árvores antes comuns, como a araucária, o palmito-juçara e a erva-mate, tiveram declínios de pelo menos 50% e por isso foram classificadas como “Em Perigo”.
O artigo pode ser lido na íntegra em:
https://www.science.org/doi/10.1126/science.abq5099.
Fonte: FURB, com informações da Agência Fapesp
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