Suzana Sedrez
Psicóloga, Dra. em Educação, Mestre em Ciências Sociais
Analisar os acontecimentos próximos deles é algo, geralmente, difícil, pois exige, não só, certos pressupostos, certa abordagem epistemológica, leituras diversas, análise de conjuntura nacional e internacional, estabelecimentos de conexões entre ações visíveis outras não, atos falhos, recalques, sintomas, bem como, o mal estar da hora.
Enfim, para dizer o momento, há algo que dá base ao que se pensa e o porquê do que se pensa o que se pensa.
Traduzir esse pensamento pela escrita é outro desafio. Quem escreve tem a expectativa de ser compreendido e, sobretudo, imagina contribuir para elucidar o emaranhado dos fatos do seu momento histórico. Não querendo ser, absolutamente, uma “ideologista surda e cega” como argumentam os que ficam à direita em questões políticas pontuadas pela esquerda. Argumentam também que ter titulação não representa conhecimento. Dependendo da linha da escola, o ritual da titulação ajuda porque só o passado (vivido e exaustivamente teorizado) possibilita compreender o presente objetivando projeção de futuro.
Vamos por partes. A cena de fundo: os EUA agonizando e cobiçando nosso pré-sal, recursos minerais etc. A cena interna: entreguistas (mercado e políticos) precisam de financiamentos do seu status quo e compõem com manobras sua sobrevivência. Como se articulam: morosidade e omissão do STF, leniência do PRG, megafone seletivo da imprensa manipuladora, Congresso de 367 arreados, testa de ferro blindadíssimo na presidência da Câmara, vice Eminência parda, distorções das informações, confusão nas competências institucionais (especialmente no âmbito jurídico), valores vazios de conteúdos e manipulados na rua para privatizar o Brasil.
Assim, nos interiores da teia da pirâmide do poder constituído, aos amigos tudo e aos inimigos o rigor do domínio de fato escancarado em forma de lei e tornado verdade em manchetes garrafais reverberadas com entonação, caras e bocas diuturnamente, por anos a fio, pelas tais seis famílias empresárias da (des)informação que lhes interessa para sua hegemonia.
Do outro lado: resistência dos movimentos sociais, dos usuários dos benefícios públicos, dos que vivem as relações de forças desiguais, dos que lutam por Reforma Política, Tributária, manutenção das conquistas históricas, ou seja, dos que lutam contra a corrupção em quaisquer níveis do Estado.
Aqui temos uma unidade num Brasil que cospe unido: os dois lados são contra a corrupção.
De que corrupção se fala? Dos corruptos que “lutam” contra uma corrupção generalizada, focada num só partido e em pessoas desse partido, liderados por um corrupto comprovadamente corrupto? Tudo executado sob uma cortina de fumaça operando o sangramento do País e transferindo bilhões para alguns poucos no mundo civilizado. Ações que se traduzem em poder, e, poder do dinheiro nessa sociedade capitalista onde se podem destruir países, populações em nome da guerra pela democracia, cuja crise opera nosso mal estar brasileiro atual.
Aprovado o processo de impeachment da Democracia na Câmara, agora espera parecer do Senado para definir que tipo de República das Bananas, noticiada no mundo afora, seremos.
Concomitante ao Golpe há a esperança de pacificação do modelo Neoliberal, vislumbrando no espaço político a superação de suas contradições (antagônicas), do capitalismo mais uma vez sôfrego (lembrando a crise de 30, de 60 e de 80) em curso no planeta.
Para finalizar, compartilho Mujica, que atualíssimo, pronunciou recentemente:
“Por isso, precisamos da política. Tem razão Aristóteles: o homem é um animal político, porque a função da política não é gerar corrupção e acomodar gente. A função da política é colocar limite à dor e à injustiça. A função da política é lutar por um mundo melhor e também buscar permanentemente as inevitáveis diferenças. A função da política não é aplastar. A função da política é negociar as inevitáveis diferenças que se apresentam na sociedade.”
Parabéns Suzana. Ao iniciar a leitura imaginei um texto enorme. Porém fostes sutil e breve. Formidável.
Talvez a Polícia Federal e o Juiz Moro sejam mais alfabetizados …
A autora é tão boa em analisar o cenário político quanto Dilma Roussef.