O sábado de manhã foi chuvoso e ruidoso no centro de Blumenau. A garoa fina predominou, assim como a disposição de um grupo de pessoas, com o Coletivo Feminista Casa da Mãe Joana a frente. Não se intimidaram e foram às ruas para dar visibilidade ao projeto de lei que discute mudanças no direito soberano da mulher vítima de violência sexual.
Mas quero falar de redes sociais e da politização de temas que transcendem a política partidária.
Penso que as organizadoras partidarizam o tema convocando com este slogan, “Mulheres contra Cunha”. Sim, o famigerado e na berlinda Eduardo Cunha (PMDB), presidente de Câmara dos Deputados, é o autor do projeto que quer mudar algumas regras nas leis sobre o aborto. Mas essa discussão deve transcender a ele, pois o deputado representa uma segmento da sociedade, mas o assunto é mais amplo.
A importância do debate sobre um tema que mistura saúde pessoal e pública, direitos, individualidade, violência e crenças, acaba ofuscado por uma posição contrária ao político que, por conta do cargo, tem as condições de infernizar a presidente Dilma (PT), apesar de estar tanto ou mais enrolado. E aí passa a ser a manifestação do pessoal ligado ao governo e “a esquerda contra o pessoal da direita”. Então o debate sobre o cerne do projeto vai para segundo plano, que no caso é a manutenção dos direitos da mulher em caso de violência sexual.
Para piorar cria-se espaço para manifestações nas redes sociais de pessoas como o dono de uma ótica no centro de Blumenau, incomodado que façam manifestação em “defesa do aborto” e não contra “a corrupção no governo”. Foi a postagem dele hoje no Facebook e ganhou repercussão. Está na página da Georgia Faust, uma das idealizadoras da manifestação.
Não o conheço, mas com certeza ele não domina o assunto do projeto de lei, mas está claro que é contra o governo do PT. O que não justifica ficar expondo opiniões sobre tudo e sobre todos. Revelou preconceito. Se estava incomodado com algum eventual reflexo negativo no movimento da loja dele, vai piorar. A reação a manifestação dele nas redes sociais está grande. É a legítima hora que alguém deve pensar: devia ficar de boca fechada ( no caso, sem publicar nas redes sociais).
Enfim, o projeto do famigerado Eduardo Cunha (PMDB), quer obrigar as vítimas a comprovarem que foram abusadas e ainda aplica punições para os profissionais que promoverem processos abortivos. Em resumo, a política da pílula do dia seguinte fica a critério do servidor da rede púbica de saúde, de acordo com suas crenças. Além disto a vítima precisará fazer um exame corporal e se sujeitar às condições degradantes de nossas delegacias para dizer que foi estuprada. Sua palavra não basta.
Não vou esticar sobre o tema aborto, mas sobre as liberdades individuais. Qualquer lei no mundo, deve convergir para o indivíduo, mesmo vivendo em sociedade. Nossas escolhas são soberanas e em muitos e muitos casos, estritamente privadas. E assim devem ficar.
Fica a importância da manifestação em Blumenau e pelo país afora. Este debate tem que ir para a rua, parabéns. Com menos politização, com consciência, engajamento e mais entendimento sobre o que está se tratando, podemos avançar.
PS: Fotos enviadas por quem estava na manifestação.
Seja o primeiro a comentar