MARTA BROD
Jornalista e Professora
Sim, o Brasil não está passando por uma situação muito boa. A pátria, que um dia desejou tanto ser educadora, tem se mostrado frágil, caótica e, pior de tudo, mentirosa. E quando falo de pátria, quero deixar claro, que me refiro aquele bando de colarinho branco que dizem ser nossos representantes numa praça chamada de três poderes. (assim mesmo, tudo em minúsculo).
Como se não bastasse todos os julgamentos, as condenações da operação lava-jato e o conservadorismo barato de uma bancada cheia de gente querendo mandar onde não é chamado, mais uma notícia chocante ganhou proporções babilônicas – principalmente nas redes sociais. Eduardo Cunha, o líder da câmara dos deputados, colocou em votação o Projeto de Lei 5069/2013 projeto esse que pretende dificultar o aborto em casos de estupro.
Como isso acontece na prática? Bem, vamos lá. Atualmente, se uma mulher sofre um estupro, ela recorre ao posto de saúde e é atendida imediatamente. Basta, “apenas” a palavra dela sobre o referido abuso sexual. O médico prontamente – sem exigência de comprovação – indica a pílula do dia seguinte e o coquetel Anti-HIV, caso o seu agressor tenha o vírus da AIDS.
Porém, com a aprovação desse Projeto de Lei a mulher, mais uma vez, fica a mercê do Estado. Então, o que muda? É necessário uma comprovação, isso mesmo, COMPROVAÇÃO que a mulher sofreu violência sexual; fica PROIBIDA a indicação da pílula do dia seguinte e, para finalizar, os profissionais da saúde que aconselharem a interrupção da gestação ou, preparem seus ouvidos agora senhoras e senhores, PASSAREM INFORMAÇÕES SOBRE O DIREITO DAS MULHERES, serão punidos!!!!! Sim, isso mesmo. Estão nos negando o direito a informação, queridos!
Você ainda não está satisfeito apenas com isso? Então, segura na minha mão e veja só esses dados:
segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) são registrados 50 mil casos de estupros no Brasil, porém apenas 10% representam o total real. Ou seja, isso eleva o número para 500 mil casos! Vocês conseguem imaginar? 500 mil casos de estupros – POR ANO- no Brasil. E ainda querem nos negar o direito de informação!
Agora, me diz: como não ficar com o estômago embrulhado depois de tanta hipocrisia? Como não se ofender com tanta informação retrógada? Um dia, uma das pioneiras do feminismo, Simone de Beauvoir, disse em seu livro O Segundo Sexo: não se nasce mulher, torna-se mulher. E eu me pergunto: como me tornar uma mulher onde é o Estado que controla meu útero, meu corpo, minhas roupas? Um lugar onde o Estado quem legitima, manipula, dá ordens e condena meu modo de agir e pensar? É por isso que o feminismo existe e é por esse e outros tantos milhões de motivos que jamais devemos deixar de lutar!
O desabafo e a indignação sobre esse assunto poderiam ser extensos. Mas falar sobre abuso sexual sendo uma vítima desse sistema doí – e muito!
Se queres mais informação e ficar chocado (assim como eu) seguem alguns links interessantes sobre o assunto: http://bit.ly/1OMFfmF ; http://bit.ly/1kAbUiF ; http://abr.ai/1NYg14H
Parabéns pelo texto incrível. Você fala e luta pelo direito de muitas mulheres que não tem voz.