O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou nesta quinta-feira, 19, que há crianças com “um grau de deficiência que é impossível a convivência”. A declaração foi dada durante uma visita ao Recife, dias depois de uma entrevista em que ele afirmou que estudantes com deficiência atrapalham o aprendizado de outros alunos.
“Nós temos, hoje, 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo ‘inclusivismo’, nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam”, afirmou Ribeiro.
O ministro da Educação não informou como chegou aos 12%. Em 2020, segundo o Censo, o Brasil tinha 1,3 milhão de crianças e jovens com deficiência na educação básica. Desses, 13,5% estavam em salas ou escolas exclusivas, e 86,5%, estudavam nas mesmas turmas dos demais alunos.
Em 2005, o total de pessoas com deficiência matriculadas era bem menor (492.908). Além disso, a maioria delas (77%) permanecia em espaços exclusivos para alunos com necessidades educativas especiais — apenas 23% eram incluídas nas salas regulares.
A declaração de Milton Ribeiro ocorreu após a reinauguração do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, na Zona Norte da cidade. O local estava fechado desde o início da pandemia da Covid-19.
Questionado sobre a entrevista transmitida no dia 9 de agosto, no programa Novo Sem Censura, da TV Brasil, ele afirmou que a repercussão dada às frases foi causada por “questões políticas”.
Na fala anterior, Ribeiro disse que, quando uma criança com deficiência é incluída em salas de aula com alunos sem a mesma condição, ocorre o que chamou de “inclusivismo”, em que a criança não aprende e “atrapalhava” a aprendizagem das outras.
Nesta quinta-feira, ele afirmou que, ao dizer que as crianças com deficiência atrapalham as outras, falou “entre aspas”.
“[…] esses 12%, elas são, realmente, elas se atrapalham mutualmente. Nem uma ouve, nem o outro entende. Porque uma criança, por exemplo, com um grau muito elevado de um tipo de problema, essa criança não consegue aprender”, declarou.
O portal G1 questionou o Ministério da Educação sobre os números informados pelo ministro e sobre como são feitas as classificações dos graus de deficiência citados por Milton Ribeiro. A pasta informou que, de acordo com o Censo Escolar de 2020, houve um aumento de 34,7% no número de estudantes com deficiência matriculados, em relação a 2016.
A maioria deles está no ensino fundamental, que concentra 69,6% dos estudantes, e, entre os dois últimos censos, houve crescimento de 114,1% nas matrículas na educação profissional concomitante/subsequente.
No entanto, o MEC não respondeu de que forma são classificados os graus de deficiência citados pelo ministro. O portal G1 voltou a questionar o ministério, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
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