O Movimento Blumenau Pela Vida, formado por movimentos sociais, sindicatos e partidos do campo progressista, que desde a segunda-feira passada tem enviado pessoas diariamente para a barragem Norte, para auxiliar os indígenas com doações e suporte, emitiu um comunicado na tarde deste domingo criticando o Governo do Estado, por conta do uso da Polícia Militar na ação para reabrir as comportas.
Segue o texto, de responsabilidade do Movimento Blumenau Pela Vida.
O governador Jorginho Mello descumpriu novamente um acordo firmado para realizar ações da Defesa Civil na comunidade Laklãnõ Xokleng em José Boiteux. Apenas a Polícia Federal e a Defesa Civil atuariam nas aldeias para operação da barragem (e a PM realizaria apoio caso necessário), mas no dia de ontem foi enviado reforço policial de pelo menos 14 viaturas, ônibus com efetivo, cavalaria e aeronave, criando tensão entre as famílias.
Após sete das dez aldeias ficarem alagadas e isoladas com o fechamento da barragem, a comunidade indígena, comunidades do entorno e entidades solicitaram abertura das comportas, ordem exigida também pelo Ministério Público Federal. O Cacique-Presidente Setembrino Camlem já havia estabelecido que a comunidade não iria interferir no trabalho da Defesa Civil, corroborando também com o posicionamento do Ministério dos Povos Indígenas.
No perfil do grupo Tático da PM SC nas redes sociais, foram feitas duas publicações com ameaças sobre a nova operação em território indígena. Uma delas foi apagada após repercussão. No dia de ontem as famílias também perderam acesso à energia elétrica, internet e contato telefônico. Horas depois, policiais fortemente armados chegaram ao local e foram embora somente às 13h30 de hoje.
No sábado passado (7) houve uma reunião entre a comunidade e o secretário estadual da Defesa Civil, Jerry Comper, quando o estado se prontificou a prestar auxílio às famílias para a calamidade e para a operação das comportas, como fornecimento de água potável, medicamentos, lonas e transporte, que seriam realizados a partir do domingo (8).
Porém, antes mesmo de enviar apoio (também descrito no plano de contingência oficial da barragem) o batalhão do BOPE foi enviado, descumprindo a decisão anterior. Houve conflito e pelo menos três pessoas foram baleadas, uma delas foi encaminhada ao hospital.
Situação da barragem e Força Nacional
Dias antes a Defesa Civil estadual havia se pronunciado e afirmado que a barragem não seria operada por falta de segurança, já que não há manutenção há mais de 10 anos e o laudo técnico está vencido. Na última sexta-feira (13) foi a primeira vez na história que a barragem verteu, com capacidade para 357 milhões de metros cúbicos de água.
O Ministério dos Povos Indígenas se manifestou ontem e solicitou à Defesa Civil um levantamento de quantas pessoas ainda se encontram em situação de risco, publicação das quantidades de doações e apresentação do plano de continuidade até o fim da calamidade.
A Força Nacional está se deslocando para Santa Catarina e estará amanhã (16) na comunidade de José Boiteux em uma ação conjunta do Ministério dos Povos Indígenas e do Ministério da Saúde para avaliar a situação.