Marina Melz
Jornalista
Na mesma proporção que as tragédias nos atingem de maneira cada vez mais constante, também aparecem nas redes sociais centenas de milhares de mensagens emocionadas e emocionantes clamando por justiça, por igualdade, por paz (alguém consegue mensurar o que são essas três letrinhas em dias como os nossos?).
Sobram exclamações fervorosas e faltam perguntas. Por que nos mesmos discursos que falamos de amor, também defendemos tão veementemente a nossa posição e dedicamos tanto tempo ao que poderia ter sido diferente?
Usamos mais o “e se” do que o “já que”. Pensamos mais em como poderia ter sido do que no que podemos fazer melhor. “E se os donos da boate Kiss não tivessem sido negligentes…” é diferente de “já que eles foram negligentes e vão pagar por isso, vamos pensar numa maneira de fazer com que não aconteça de novo”. Esquecemos que o que passou há um segundo não pode ser mudado, mas o que acontece daqui a um segundo, sim.
Também preferimos o “mas” do que o “e”. Enquanto o primeiro nega o que veio antes dele (“o que você fez está bom. Mas eu faria diferente”), o segundo co-cria, complementa, faz crescer (“o que você fez está bom. E se acrescentássemos isso?”).
O “e” também é frequentemente (e sem necessidade!) substituído pelo “ou”. Sofrer por Minas Gerais ou por Paris? Acreditar em São Jorge ou Ogum? Gostar de Chico Buarque ou Michel Teló? O governo é bom ou mau? Segregar é sempre perder.
Escolher um lado é renegar o outro. A visão mais clara é quase sempre a de cima do muro.
O que dizemos é reflexo do que somos. Ser uma pessoa melhor é prestar atenção no que diz. Mudar a vida de alguém pode estar numa resposta de e-mail, num comentário no Facebook e numa discussão que mostre que o mundo não é feito de iguais, mas que, juntas, várias peças podem construir uma humanidade diferente. Ainda bem.
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