O protagonismo das nossas águas

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MARINA MELZ

Jornalista

 

Blumenau não seria aqui não fosse o rio. Talvez não fosse em lugar algum – e esse pedaço de terra, veja só, poderia ter sido caminho, não paradeiro. Ele corta não só o Centro da cidade, como está no centro de tudo. Nos obriga a construir pontes porque nos separa, ao mesmo tempo que nos alimenta.

Temos um rio que insiste em subir ou descer, subir e descer. O tamanho dos centímetros não se mede apenas pela régua. O número alivia ou desperta o pânico porque com ele estão cotas de destruição de um patrimônio imaterial: o passado e o futuro de uma centena de famílias que espera atenta e atônita o próximo boletim.

Nosso zique-zaque que ameaçou aguar também é culpa dela – a enchente de chope, como o trocadilho diz, chegou depois da pior enchente do rio. Tudo porque Blumenau tem esse rio e não fosse por ele não seríamos nem Blumenau, nem Oktoberfest, nem centímetro ou metro algum.

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Blumenau tem um rio que faz curva. Na beira dela, uma prainha hoje abandonada já foi palco do maior de todos os nossos festivais de música, dos mais bonitos piqueniques e de reuniões culturais espontâneas onde “siuníam” todas as tribos. A curva que era observada do alto do Morro do Aipim e que – do ângulo contrário – viu o Frohsinn queimar.

O nosso rio é aquele que inspira a fé nas procissões fluviais, que desperta a alegria no Natal com o barco levando o Papai Noel, que traz a tona o nosso sentimento de turista no próprio lar na beleza da travessia da ponte de ferro. É para onde se perde o olhar dos senhores que passeiam todas as manhãs na Beira-Rio e onde é fácil de encontrar a sensação de pertencimento a este lugar.

Blumenau tem um rio que é mistura de bênção com maldição, de desenvolvimento com perda, de polêmica e paz, amor e ódio.

E enquanto novamente esperamos aflitos pela contagem dos centímetros que vão muito além de números, o rio se mostra mais uma vez protagonista da nossa história. Como foi desde o primeiro dia. E como será pra sempre.

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