O MDB de Santa Catarina é um partido que tem raízes na história política do estado. Durante o tempo do fim da ditadura, foi um ferrenho defensor da democracia, mas hoje tem uma ala que flerta com o bolsonarismo e suas posturas antidemocráticas.
Em 2024, fez uma campanha publicitária onde se apresentou com o partido do “equilíbrio”, colocando um pé em cada canoa. É base do Governo Lula (PT) e base do Governo Jorginho Mello (PL). Suas principais lideranças com mandato se equilibram entre as duas vertentes.
Este aparente equilíbrio fez o partido perder protagonismo e ser a legítima definição da palavra “partido.”
A discussão para ampliar a participação do MDB no Governo Jorginho gerou um forte debate interno. Mas não por conta de alguma postura mais convicta, e sim pelo fato de que o governador não acenou com vagas que seduzissem os emedebistas, que hoje contam com o deputado estadual Jerry Comper na secretaria de Infraestrutura, pasta importante, mas quem se sobressai é Ricardo Grando, o adjunto, com quem Jorginho conversa.
O chefe do Executivo ofereceu a pasta da Agricultura, que seria ocupada pelo deputado estadual Antídio Lunelli, mas sem ingerência na Epagri ou Cidasc, ou seja, com pouco poder de fogo. E a proposta para atrair o presidente estadual da sigla, Carlos Chiodini, principal articulador do partido junto ao Governo Federal, também não seduziu. Foi oferecida a secretaria do Meio Ambiente.
Com estas ofertas consideradas insatisfatórias e de olho em 2026, os grupos internos pegam fogo nos debates. Nesta semana, ganhou visibilidade uma mensagem atribuída ao vice-prefeito de Xanxerê, Adenilso Biasus, compartilhada pelas principais lideranças, entre elas o próprio Chiodini.
“Considerando os fatos recentes e a postura do governador em relação ao MDB, acho prudente, no momento e a persistir o mesmo cenário, a não adesão ao governo com novos espaços, mantendo a nossa posição de independência. Paralelamente a isso, poderíamos lançar um plano de governo para o Estado através da Fundação Ulysses Guimarães, antecipar as prévias e definir o nosso candidato a governador (acredito que desta vez será por consenso) com vistas a dar-lhe a oportunidade para percorrer o Estado a fim de apresentar essa proposta.
Sendo assim, no primeiro semestre de 2026, teremos melhores informações para definir o nosso rumo com maior assertividade: candidatura própria ou apoio ao projeto mais viável.”
O MDB catarinense está de olho nas articulações nacionais dos partidos para fusões. Em situações diferentes, siglas como União, PP, PSDB e outras sinalizam que devem tomar a decisão pela fusão, fazendo com que algumas lideranças desses partidos possam procurar abrigo em outras siglas, uma delas o próprio MDB.
A disputa ao Governo em Santa Catarina em 2026 promete ser polarizada entre dois nomes que representam o espectro da direita, com viés bolsonarista, o próprio Jorginho e o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), sendo difícil um nome diferente para atrair o eleitorado catarinense.
E no cenário nacional, de um lado o PT com Lula ou sem Lula, e candidatos do campo da direita, no plural, caso Jair Bolsonaro siga inelegível. Em caso contrário, o ex-presidente será o candidato natural.
Nesses contextos, qual será o papel do MDB catarinense? Hoje, como ao longo dos anos, parece confuso e descoordenado, o que demonstra um pouco dos motivos que levaram a sigla a perder o protagonismo no estado.
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