Todos os dias ouvimos ou lemos sobre os danosos efeitos da pandemia nas classes que povoam a pirâmide social. Os efeitos estarão na lista prioritária dos fatores que influenciarão o processo decisório do eleitor em 2022, daí a conveniência de um olhar analítico sobre a questão. Pesquisa recente do Instituto Locomotiva dá conta de que cerca de 5 milhões de brasileiros saíram da classe média C para a classe baixa. As classes médias com cerca de 100 milhões de pessoas, abrigam três grupamentos, com ganhos entre R$ 3 mil e R$ 10 mil; pela primeira vez em 10 anos, a faixa com renda familiar entre R$ 265 e R$ 2,2 mil, ou seja, 47% da população, desce um degrau na escada.
A par da perda de renda, essa classe média sofre o forte choque causado por perda de status. Sabe-se que o sonho de uma família é não apenas garantir sua posição na pirâmide social, mas tentar subir mais um degrau, alcançando um andar mais alto. O trauma psicológico decorrente dessas perdas se traduz em acentuada sensação de desconforto, insegurança, ansiedade, com sequelas sobre comportamentos e atitudes. Se a tendência de queda bater no segundo semestre do próximo ano, teremos um eleitor de classe média profundamente contrariado. Por lógica simples, trata-se de um perfil tendente a votar em candidatos abrigados nas roças da oposição.
Ora, dos cerca de 150 milhões de eleitores brasileiros, o grupamento reunido sob o teto de conscientização política provém das áreas da classe média. Se considerarmos três faixas de classes médias – C, B e A (menor, médio e maior poder aquisitivo), veremos que aí se abrigam profissionais liberais, pequenos e médios proprietários, comerciantes e comerciários, servidores públicos de todas as esferas e poderes, autônomos, que perderam suas vagas no mercado de trabalho, enfim, pessoas que acompanham a política de forma mais estreita, discutem fatos do cotidiano, tecem loas e críticas aos protagonistas da cena institucional.
São tais figurantes os principais sopradores do balão da Opinião Pública. Esse balão, lembre-se, é formado pelos inputs – cargas informativas, interpretativas e opinativas – que batem no sistema de cognição de participantes da vida social. Os fatos – notícias, ações, boatos – entram em tubas de ressonância, sendo uma voltada para o nivelamento da compreensão e outra para exageros e exacerbação. Ou seja, as pessoas tendem a nivelar os inputs que lhes chegam pelo conhecimento de política, pela compreensão sobre o disse-disse das ruas. Ou a superdimensionar as versões que conhecem, sendo, neste caso, canais de propagação de exageros. A massa amalgamada de pensamentos – de todos os tipos e portes – forma o balão da Opinião Pública.
Papel de destaque terão as lideranças comunitárias. Cada comunidade, seja na esfera horizontal (bairro, região) ou vertical (profissionais liberais, gêneros), possui uma liderança, alguém de destaque, sendo essas referências boas fontes de expressão e pensamento. Comportam-se como tubas da Opinião Pública.
Haverá, portanto, uma tendência maior e é esta que produzirá o discurso eleitoral de 2022. As classes médias, sob esse entendimento, darão o tom do ano eleitoral. É evidente que as margens exercem influência, mas sua forma de pensar liga-se mais à micropolítica, o atendimento às demandas do cotidiano, alimento mais barato, transporte rápido e barato, eficaz atendimento na saúde sem filas, educação de qualidade. O nível de conscientização segue o fluxo das demandas, preenchidas ou não. Também tais nichos serão influenciados pelo caldeirão que ferverá no andar acima.
Referimo-nos, aqui, à conhecida tese sobre o poder de irradiação de ideias das classes médias. A força da pedra jogada no meio da lagoa. Formam-se marolas que correm até as margens. Essas ondas de opinião acabam sendo internalizadas pelas margens carentes, engrossando os dutos centrais do pensamento da Opinião Pública. São fatores, tendências, posicionamentos periodicamente aferidos por pesquisas de opinião.
Em suma, senhores protagonistas do teatro político, entrem no palco com os olhos e ouvidos colados à Opinião Pública.
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