Opinião | A Geografia e a lição dos três porquinhos


No século XXI, pode ser observado de modo constante nos meios de comunicação, frequentes notícias referentes à desastres naturais e eventos extremos, sejam deslizamentos de terra, inundações, estiagens e secas prolongadas. Podendo ser outros eventos que ocorrem em diversas regiões do Brasil e do planeta, e o estudo de sua intensidade, frequência dos eventos climáticos, nos traz reflexões da vulnerabilidade socioeconômica e ambiental.

Pois bem, muitas vezes, estudantes do Ensino de Séries Finais ou Médio na disciplina de Geografia, questionam afinal, para que devo estudar e analisar os fenômenos climáticos, utilizar conceitos, teorias ou refletir sobre determinados acontecimentos. Pois segundo Pontuschka a Geografia enriquece as representações sociais e seu conhecimento traz grandes dimensões da realidade social, natural e histórica e nos faz pensar que o planeta tem seu processo contínuo de transformação.

Alguns afirmam não haver necessidade de saber a linguagem cartográfica para interpretar mapas, uso e ocupação do espaço geográfico, estudo do relevo, da climatologia, da hidrografia para entender a importância das bacias hidrográficas, da geopolítica, a geoeconômica, a geografia histórica entre outros.

Ridiculariza o conhecimento da educação cartográfica não sabendo ao menos interpretar uma rosa dos ventos, conceitos básicos da ciência geográfica, suas teorias, reflexões de extrema importância para ciência e seu conhecimento. Ao que parece, esta é a opinião de muitos estudantes, muitas vezes corroboradas pelos seus progenitores, demonstra o quanto se precisa avançar e conhecer a geografia como ciência e mais ainda sobre o importantíssimo ofício dos geógrafos.

Pois a prática educativa desses profissionais reconstrói a forma de pensar, sentir e atuar das novas gerações, trazendo reflexões que impactam no futuro ambiental.  Como forma de compreender melhor o lugar onde se vive, suas relações com os aspectos globais que vai além da contemplação de uma bela paisagem natural onde houve pouca intervenção humana.

E que para Callai a paisagem deve ser apreciada muito mais do que é visível e observada, precisa buscar explicações do que está por detrás da paisagem, entender o significado não visível para compreender a realidade. Ao que parece, esta ignorância em não perseguir e compreender os conhecimentos produzidos e validados historicamente pelos cientistas, especialmente da ciência geográfica, gera grande e enormes prejuízos financeiros.

Pensando no incalculável prejuízo que representa a perda de uma vida humana, diante de algo que poderia ser evitado, para Loose os cientistas e pesquisadores juntamente com as fontes governamentais, e os meios de comunicação, tem sua responsabilidade e precisam dar visibilidade ao tema das mudanças climáticas.

Além do mais, se pode imaginar o atraso cultural que isso gera para a cultura de um povo. Isso, pode ser remetido à literatura infantil (que, talvez tenha sido composta como forma de evitar este tipo de tragédia). Afinal, quem não recorda a história dos três porquinhos e o triste destino que lhes foi ocasionado pelo fato de alguns edificarem suas residências com materiais frágeis, fazendo com que, os perigos da natureza (que para as crianças foi ilustrado na figura do lobo mal), facilmente destruam os seus abrigos.

Apesar de ser uma história antiga, registrada de contos populares, por Joseph Jacobs, em 1853, não parece ter gerado nenhum tipo de aprendizado prático na interpretação popular. Parece que os porquinhos da literatura infantil do século XIX, encontram equivalentes de negacionismo no século XX, estendido ao século XXI. E torna mais evidente a reflexão do geógrafo Carlos Walter e Hansen que aponta a globalização neoliberal e a devastação ambiental como um desafio, perda da diversidade e mudanças climáticas.

O crescimento econômico advinda da globalização, o consumismo, a exploração dos recursos naturais, criam problemas que até então não tinham. E muitos desastres naturais podem ou poderiam ser evitados com o uso de conhecimentos específicos.  E a Geografia é uma das ciências, que seus estudos respeita as condições naturais, estando preparados para eventos climáticos e a modificação do espaço geográfico ao longo dos últimos anos.

Por outro lado, temos que reconhecer que há uma ausência, omissão ou ineficiência, de atuação do Estado como agente estratégico de organização e da ocupação do espaço geográfico. Principalmente pensando no processo de urbanização, juntamente com a especulação imobiliária que contribui para “empurrar” as populações de baixa renda a ocuparem as áreas de maior risco ou mais vulneráveis ambientalmente no qual contribuem para as frequentes ocorrências desses desastres ambientais.

Portanto, a literatura infantil dos três porquinhos torna possível refletir a geografia com um outro olhar, seja quando relacionamos a climatologia, o uso inapropriado do solo e seus recursos naturais, bem como a transformação do espaço geográfico. E repensar em soluções mais adequadas aos programas habitacionais, levando em conta a vulnerabilidade socioeconômica, evitando desastres ambientais e se preparando para os eventos extremos a partir dos estudos científicos da ciência geográfica.

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