Opinião | A indecisão das ruas, nas urnas: é o cheiro de Oktoberfest ou eleição?

Foto: reprodução

O aroma da Oktoberfest já se dissipa no ar, e dá para sentir que o maior evento da cidade está chegando. Mas, nas esquinas, nos cafés, em bares, grupos de amigos e zap da família o assunto que perfuma e invade é outro: o cheiro inconfundível das eleições. Com pouca informação, sem pesquisas pipocando nos veículos de imprensa, o que bate à porta de todos é um turbilhão de incertezas que faria até o mais resoluto Fritz coçar a cabeça em perplexidade. Estamos a poucos dias do grande evento democrático, e o cidadão ainda está se perguntando para onde a cidade vai a partir de 2025. Parece até uma festa marcada para acontecer, mas com o convite perdido no meio do caminho.

Enquanto o relógio eleitoral, como o famoso da igreja matriz, tiquetaqueia impiedosamente, Blumenau se vê diante de um espelho embaçado, tentando decifrar os contornos de seu próprio futuro. Tudo parece tão nebulosa quanto uma manhã de garoa no Vale do Itajaí. As vozes de uma cidade em transformação, hoje ansiosa por respostas, sente a urgência de atenção em alguns temas escorregar por entre os dedos de seus candidatos.

Nesta semana, por curiosidade (ou seria masoquismo?), fiz nas redes sociais uma pergunta aparentemente simples: “O que você gostaria de perguntar aos candidatos a prefeito?” O que recebi de volta foi uma cacofonia de vozes. As respostas foram um verdadeiro pot-pourri, uma miscelânea, uma sequência de fragmentos de melodias, de anseios, frustrações e sonhos, revelando um abismo entre os planos de governo e a realidade crua das ruas.

É verdade que por muito tempo o motor que fez a engrenagem econômica da cidade girar foi o segmento têxtil. Hoje, porém, o setor de serviços emprega a maior parte dos trabalhadores por aqui. Mas será que nossos futuros líderes compreendem realmente o pulso desta nova realidade? Enquanto os planos de governo parecem flutuar em uma nuvem de abstrações, o sentimento é que os nossos gestores ainda não perceberam que trocamos as máquinas de costura por smartphones.

Os trabalhadores de aplicativos, por exemplo, que, diariamente, cruzam as ruas da cidade não encontram sequer um ponto de descanso. E por falar em descanso, muitos se perguntam por que o Uber não está integrado ao transporte coletivo, como acontece em outras cidades? Um ponto de embarque aqui, outro acolá, linhas “expressas” de ônibus, e o caos no trânsito poderia ter um respiro.

E o comércio? Lojistas lamentam a falta de gente nas ruas, como se o centro fosse um baile sem música. O home office esvaziou as calçadas e falta ação pública para atrair consumidores de volta. Uma gestão mais disposta a pensar em maneiras criativas de revitalizar essas áreas comerciais, talvez, tornasse os espaços mais atraentes, em vez de só pensar em grandes eventos. Falando nisso, o Stammtisch e o desfile da Oktoberfest, será que não era o tempo de discutir como reduzir o conflito com os lojistas, quem sabe essas festas aos domingos de manhã não podem ser uma boa ideia?

Mas, talvez, o maior incômodo que ocorre, e os candidatos não conseguiram captar em seus planos de governo, seja a comparação com Pomerode que, de alguma forma, consegue ser um destino turístico mais bem-sucedido que Blumenau. O sentimento é que segue-se uma crise existencial. Enquanto isso, nossa vizinha minúscula, dá uma aula de como atrair visitantes. Temos potencial, temos história, temos cultura. O que falta é visão. Falta a integração entre turismo e cultura, falta uma aplicação pública que vá além dos eventos tradicionais. Faltam ideias novas.

Na saúde, o povo sonha com um sistema de agendamento tão eficiente quanto o cardápio de um delivery. “Quero um clínico geral para viagem, por favor. Pode ser na unidade mais próxima?”. Mas, todos reclamaram que se deparam com a rigidez de um sistema que parece ter sido esculpido em granito. Por que, em pleno 2024, ainda não conseguimos agendar uma consulta de forma prática e digital em qualquer unidade de saúde? A tecnologia está aí, mas a gestão parece emperrada em uma lógica antiga.

Já na educação, o desejo que brotou nas minhas redes é por mais escolas em tempo integral, que parece que é um tema pouco discutido pelos candidatos. Além de ajustes em horários de atendimento das unidades para conciliar com os desafios profissionais dos pais. E, outro ponto que ganha eco, está nos cuidados infantis durante as férias escolares.

A habitação também não ficou de fora. “Os trabalhadores são empurrados para a periferia, enquanto o centro vai se esvaziando”, lembrou uma das pessoas que enviou suas angustias. Atualmente, existem em toda cidade mais de 7 mil imóveis vagos. Sem falar nos imóveis públicos abandonados, que poderiam muito bem abrigar famílias que hoje lutam por um teto. Ao mesmo tempo, o déficit habitacional é de aproximadamente 30 mil residências. Porém, o custo de locação ou venda de casas e apartamentos dificultam o acesso a uma moradia descente para muitos. A falta de uma política habitacional que traga de volta o dinamismo, o conforto de um lar, é apontado por tantos como um problema que deveria mobilizar o coração do próximo gestor.

Nas questões da reforma urbana, urgente e necessária, são apontadas questões como uma solução urgente para o fluxo do trânsito na Rua 7 e na Beira-Rio, onde 40% do tráfego diário se amontoa como um pesadelo recorrente. Bicicletários nos terminais urbanos, descentralização de serviços… Ideias que estão ai, pulando de língua em língua, como um dialeto alemão esquecido na colônia e não traduzido para a realidade dos dias.

E, por fim, chegamos a uma das questões mais sensíveis: os moradores de rua. Como tratar de forma humanizada essas pessoas que perderam quase tudo? Seguiremos ignorando a presença deles nas esquinas e, pronto, tudo resolvido?

À medida que nos aproximamos das urnas, Blumenau se encontra em uma encruzilhada. De um lado, o peso de seu passado glorioso; do outro, as promessas incertas de um futuro ainda por ser escrito. Se a oportunidade de conversar com os candidatos chegasse para mim, diria: o que nos falta, caros candidatos, não são apenas respostas, mas a coragem de fazer… Afinal, como diria um bom blumenauense, “política sem ação é como chopp sem espuma – não satisfaz ninguém!”

Tarciso Souza, jornalista e empresário

1 Comentário

  1. Desta vez o empresário e jornalista escreveu bom texto ,sem viés político .

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*