Opinião | A Lei e a Ordem que não se aplicam a todos: a cronologia dos indiciamentos de Jair Bolsonaro

Foto: AFP/Reprodução

Durante anos, o discurso do governo de Jair Bolsonaro foi pautado em valores como respeito à lei, ordem e o combate à corrupção, com a ideia de que “não se tinha político de estimação”. No entanto, as investigações da Polícia Federal (PF) revelam uma sequência de acusações graves contra o ex-presidente, levantando uma questão incômoda: a lei e a ordem valem apenas para os pequenos delitos?

1. Ataques à democracia e fake news

Desde o início de seu mandato, Bolsonaro utilizou sua posição para desacreditar o sistema eleitoral, promovendo teorias conspiratórias sobre urnas eletrônicas. Ele chegou a vazar informações sigilosas de um inquérito e encontrou-se com hackers para atacar a credibilidade do processo eleitoral brasileiro. Esse esforço sistemático de desinformação alimentou a desconfiança e o caos social  .

2. Escândalo das joias

Entre 2019 e 2022, Bolsonaro recebeu presentes de luxo, como relógios e joias, da Arábia Saudita e Bahrein. Em vez de incorporar os itens ao patrimônio público, sua equipe tentou vendê-los ilegalmente no exterior. As joias foram transportadas em aviões presidenciais e algumas chegaram a ser leiloadas nos Estados Unidos. Após a pressão da imprensa e do Tribunal de Contas da União (TCU), os itens foram recuperados e devolvidos  .

3. Tentativa de atentado e golpe de Estado

Após as eleições de 2022, episódios como a tentativa de explodir um caminhão-tanque em Brasília revelaram uma estratégia de desestabilização do país. Segundo investigações, o objetivo era justificar a decretação de estado de sítio e a intervenção militar, ações que Bolsonaro buscava articular com apoio das Forças Armadas .

4. Os ataques de 8 de janeiro

O ponto culminante dessa trajetória foi a invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Relatórios da CPI apontam que Bolsonaro foi o mentor intelectual do movimento, com ações premeditadas para derrubar o governo de Lula. O episódio contou com financiadores, milicianos digitais e cooptação de forças de segurança, marcando um ataque direto à democracia .

Reflexão necessária

Enquanto esses crimes são investigados, nas ruas, a chamada “população de bem” lincha ladrões de bicicletas e celulares, justificando ações violentas em nome da ordem. Isso levanta a questão: a lei e a ordem no Brasil são aplicáveis apenas aos mais pobres? Ou será que, quando os crimes partem de figuras de poder, os discursos de moralidade e justiça perdem o peso?

A atuação da Polícia Federal, amparada por evidências e cooperação internacional, fortalece a ideia de que ninguém está acima da lei. Ainda assim, o desfecho desses casos será decisivo para responder se a justiça será realmente igual para todos.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

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