Opinião | A lógica da farinha de rosca e o “Data Toalha”

Foto: reprodução

Uns chamam de farinha de rosca, outros de pão seco moído ou pão ralado. Independente do nome, apesar de ser feita com pão velho, ela custa muito mais caro que o pão novo! O negócio é que, enquanto a farinha de trigo é feita de grãos, a de rosca agrega o valor de todos os ingredientes utilizados no pão, além do trabalho do padeiro. É como o caso do vendedor de rua Saulo Adriel, criador do “Data Toalha”, um pequeno quadro negro, como os de escola, onde anota quantas toalhas vendeu de cada candidato à presidência. Aí, assim que uma de Lula é vendida, ele fala em voz alta que Bolsonaro está perdendo. Quando o atual presidente vende mais, Adriel chama os petistas para equilibrar a disputa. Tudo medido pelo “Data Toalha”, das calçadas de São Paulo para a repentina fama na internet!

Apesar do talento, o fato é que ele é um exemplo prático do que se vê nas estatísticas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), em abril de 2021, completando o primeiro ano de pandemia, havia 3,3 milhões de pessoas a menos no mercado de trabalho. Como todo mundo tem que pagar suas contas, coincidência ou não, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em parceria com o Sebrae, apontou a abertura de 3,9 milhões de novas Micro e Pequenas Empresas (MEI) no ano passado. 

Embora sejam dados aproximados, comparando as duas pesquisas há uma diferença de 600 mil trabalhadores. Para onde eles foram? 

Seu Madruga era um empreendedor? 

Exatamente neste mês, há 50 anos estreava o seriado “Chaves”. Ali começava a luta de Seu Madruga para pagar o aluguel. Dizem que não trabalhava, mas foi sapateiro, carpinteiro, eletricista, fotógrafo, pedreiro e vendedor de churros. Hoje, ele seria desempregado, autônomo ou empreendedor? Talvez, fosse um dos 600 mil que estão navegando nas águas do “home office” e não querem mais saber de trabalho presencial. O 5G que, no último dia 4 começou funcionar em Brasília, vai acelerar a velocidade da internet e ocasionar ainda mais mudanças nas formas de trabalho. Por exemplo, para atrair essa “mão de obra fujona” e mais especializada, surgiu a semana útil de quatro dias, modelo já adotado no Japão, Islândia e Emirados Árabes. Daria certo aqui? 

Hoje, o mundo é muito diferente de quando Getúlio Vargas, pai da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), instituiu o salário mínimo no Brasil, em junho… de 1936. Desde então, outros caminhos surgiram, inclusive o de Adriel, do “Data Toalha”, que se define “anarcocapitalista” e não quer saber de salário mínimo, MEI ou qualquer coisa do Estado. Mas, qual deles seguir? Na dúvida, vida que segue.

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