Opinião: a marginalização cultural pernambucana

Foto: reprodução

No dia 19 de abril de 2020, o parque de esculturas, localizada em frente ao Marco Zero do Recife-PE, amanheceu pichado, com a seguinte referência, “Pixação revolucionária”. Ato contínuo em meio suburbano do Recife e região, com a sua identidade cultural e histórica, expressa nesta manifestação. Diante disso, reflete o fim e o recomeço do padrão intelectual marginalizado. Expressada em ambientes públicos, na construção mundana e marginalizada, com mutações constantes em suas formas. Neste contexto, liga o viés do passado ao presente na ruptura do senso comum culturalmente conservadora, vista como ameaça à sociedade, constituída por uma ideologia desclassificada e expressada por músicas, danças, grafite e religiosidade em diferentes formas e ambientes.

Em sua identidade, da outrora ao contemporâneo está o Frevo, cultura pernambucana surgida no final do século XIX, traz à tona o reflexo do EU do ontem, para o de hoje em forma revolucionariamente artística e incomum, vista no presente como marca carnavalesca pernambucana. Contradizendo o sistema político e conservador e etnocêntrica. Quebrando a linhagem ideológica da época, vindo a liberdade da cultura negra, dos trabalhadores rurais e da vida urbana, como também dos emigrantes ligados ao século XIX. Em um momento de transição e efervescência social no Brasil, como grande expressão cultural das classes populares.

Sob tais pressupostos, averiguemos o ambiente histórico e religioso, trazendo a marca pernambucana que no passado foi historicamente excluída, que hoje traz sua marca cultural ativa. Destacando a capoeira surgida no século XVI, no Quilombo dos Palmares, na então capitania de Pernambuco, além de ter influenciado a dança do Frevo, da ciranda, do coco, dança de roda pernambucana. Por sua vez, em Pernambuco surgiram o primeiro folguedo e o primeiro ritmo afro-brasileiro, a congada e o maracatu. Presente na modernidade, no ritmo manguebeat, criada por Chico Science, desenvolvida em Recife na mistura do elemento cultural, como o maracatu rural, com a cultura pop, sobretudo o rock´n roll e o hip hop.

Na histografia, os elementos configuram a cultura pernambucana, que era vitimizada ao preconceito em seus ambientes de atuação. Hoje, presente de forma ativa em lugares turísticos, como Recife antigo e Alto da Sé, em Olinda, caracterizado pela diversidade culinária, pinturas ou até pichação, músicas e até a paisagem à vista em frente ao mar em contato próximo às praias.

Ainda, nesta direção do passado ao presente, a eminência cultural vagava também nas zonas litorâneas em forma identificável ao local, presente de forma ativa à Ciranda. Atuada em municípios de Goiana, Igarassu e Paulista e até ao fundo dos vales do Capibaribe-mirim e Tracunhaém, aparecendo também em localidades como Nazaré da mata e Timbaúba, já na zona da mata. Caracterizada no centro da roda o mestre cirandeiro, junto à figura principal, encontram-se alguns apreciadores dos contos e músicos: tocadores de bombo, de caixa e de minere.

Existir, reconstruir, resistir, está presente na cultura pernambucana. A evolução das classes e sua identidade terá uma ligação neste contexto, que recria e inova e restaura a visão da comunidade independentemente da classe. Para além dos padrões, vistas na contemporaneidade, está presente a arte do brega funk, surgida nas periferias de Recife, com as flexibilidades musicais e corporais, vigentes na inclusão do homem, da mulher e do grupo LGBTQIA+, apresentando a música e a dança em forma sensual e romantizada. Expressando a situação vivida na comunidade em forma de cultura e arte. No entanto, a cultura ideológica da marginalização está evidente à margem do brega funk, como também da cultura do grafite que ainda possui suas restrições políticas e traz ainda as chicotadas dos seus antepassados, eminentes de uma cultura marginal, de um passado quase esquecido.

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