Opinião | “A matemática não mente, mente quem faz mau uso dela”

Vamos brincar com a matemática?… Em 2015, através da proposta de emenda à Lei Orgânica nº 77, foi proposto um aumento no número de vereadores na Câmara Municipal de Blumenau. Ideia que foi arquivada naquele ano após vários protestos por parte da população, hoje volta aos bastidores pelos critérios declarados pelo STF no julgamento do RE nº 197.917/2018 na Constituição Federal que adequa a representatividade legislativa à evolução demográfica, hoje 361.261 habitantes em Blumenau, conforme último censo do IBGE, em 2022.

Enumero alguns dados estatísticos apresentados pelo TSE-SC para enriquecer nossa leitura:

1. De 2016 para 2020, a quantidade de candidatos ao cargo de vereador aumentou em 84,26%, ou seja, de 197 passou para 363 candidatos ;
2. E quantidade de eleitores aumentou 7,31%, ou seja, dos 230.167 eleitores em 2016 passamos para 247.014  eleitores em 2020;
3. Porém, desses 247.014 eleitores aptos, 66.873 não compareceram, o que representa 27,08% de abstenção contra os 9,05% em 2016;
4. E do total de eleitores aptos ao voto, somente 180.141 eleitores compareceram às urnas, representando 72,92% de eleitores nas seções contra os 90,95% em 2016;
5. E ainda desses que compareceram em 2020, somente votos 143.336 foram validados para o cargo de vereador (135.160 nominais e 8.176 na legenda), ou seja 79,57%. Os demais foram nulos ou em branco;
6. Isso traduz que de um total de 247.014 eleitores aptos a votar em Blumenau, somente 58,03% desses escolheram seu representante de fato, pois 103.678 eleitores abstiveram-se não comparecendo às urnas ou simplesmente anulando o seu voto. É um universo de 41,97% de votos que não existiram de fato;
7. E mais um dado interessante, tivemos preferência de 11,91% a mais de pessoas na escolha do chefe do Executivo ou seja, foram 143.336 votos para vereador contra os 160.406 para prefeito;
8. E não podemos esquecer que o vereador Egídio Beckhauser não entrou nesse cálculo pela perda do cargo através da cassação de toda a chapa do partido REPUBLICANOS, Processo TSE nº 0600001-53.2021.6.24.0088.
   

Vamos continuar nossos cálculos, agora para saber quem seriam os eleitos nessa suposição, caso aumentássemos 23 cadeiras no Legislativo, como indica a Constituição Federal? Lembrando que aumentaríamos 53,33% de cadeiras no Legislativo, portanto realizando os cálculos do Tribunal Superior Eleitoral para legenda de vereadores, teríamos 14 vereadores eleitos por quociente partidário e 9 vereadores por sobra de vagas através de média.

Fórmulas utilizadas:

QE = número total de votos válidos/cadeiras no legislativo; QP = número de votos válidos no partido/QE

Sobras por média = Votos válidos no partido/eleitos + 1

Vamos conhecer nossos 23 vereadores que seriam eleitos pela nossa suposição? 

1. PP – Almir Vieira (QP) e José Victor Iten (média);
2. PL – Ailton de Souza – Ito (QP);
3. MDB – Daniel Hostin (média);
4. PDT – Cezar Cim (média);
5. CIDADANIA – Bruno Cunha (QP) e Paulo Henrique Pereira (média);
6. NOVO – Emmanuel Santos – Tuca (QP) e Diego Nasato (média);
7. PSD – Silmara Miguel (QP);
8. PSL – Carlos Wagner – Alemão (QP);
9. PSDB – Maurício Goll (QP) e Alexandre Matias (QP). Nota: Alexandre licenciou-se para ser Secretário da Educação e após outros tantos vereadores licenciados, hoje estaria Rolf Bublitz nesta vaga;
10. PT – Adriano Pereira (QP);
11. PATRIOTA – Gilson de Souza (QP) e Roberto Tribess (média);
12. PODE – Cristiane Loureiro (QP), Marcelo Lanzarin (QP) e Giselle Chirolli (média). Nota: Marcelo Lanzarin licenciou-se para ser Secretário da Saúde e Giselle Chirolli para ser Secretária de Inclusão da Pessoa com Deficiência e Paradesporto. Hoje estariam João Beltrame e Marciano Tribess;
13. SOLIDARIEDADE – Jovino Cardoso (QP) e Zeca Bombeiro (média);
14. DEM – Marcos da Rosa (QP) e Cezar Campesatto (média). Nota: Marcos da Rosa assumiu como Deputado Estadual em 2022, então estaria Angelo

Concluímos, portanto, que não haveria mudanças significativas na Câmara Municipal de Blumenau nessa nossa brincadeira, não é verdade? E há uma explicação bem simples para esse resultado: o aumento de cadeiras foi feito em cima de um déficit eleitoral. Somente daria certo uma maior representatividade se, e tão somente se os eleitores fossem engajados participando ativamente da democracia representativa, ou seja, não adianta investir($) em mais cadeiras legislativas se a população blumenauense não participa efetivamente das eleições. Precisamos, antes de mais nada, entender, acreditar e valorizar o poder de voto como ferramenta de mudança, ou seja, não estarmos e sim sermos eleitores engajados nessa missão. O ilustre filósofo Platão já dizia: “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”.

Marina Keiko Murakami, acadêmica de Matemática