Houve um tempo em que Eduardo Cunha (PTB-SP) foi um dos homens mais poderosos do país. Presidente da Câmara dos Deputados, em 2015, autorizou o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Subiu rápido, mas acabaria preso e desmoralizado, amargando apenas 5 mil votos nas últimas eleições para deputado por São Paulo. Porém, se na vida financeira é recomendável não “colocar todos os ovos em uma mesma cesta”, seria diferente na política? É aí que surge a deputada Dani Cunha (União-RJ), sua filha, a mesma do projeto de lei n. 2720, que criminaliza “discriminação a políticos”.
O texto prevê punição para bancos que não autorizarem a abertura de contas ou empréstimos para quem exerce ou exerceu cargo ou função pública relevante ou que tem familiares nessas condições. Votado em regime de urgência e aprovado na Câmara, no último dia 14, entre os 252 votos favoráveis estão os de Aécio Neves (PSDB-MG), Pastor Marco Feliciano (PL-SP) e até Paulo Guedes, que não é o ex-ministro da economia, mas um deputado do PT de Minas Gerais. Agora o texto segue para análise do Senado.
O projeto previa também punição para quem “injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro, somente em razão da condição de pessoa politicamente exposta”, mas esse trecho foi retirado. Sorte do povão porque fica difícil segurar a língua nesses tempos em que todo mundo posta antes de pensar. Principalmente em um país cheio de episódios quase humorísticos, como o de Luís Coelho, ex-prefeito de Paulistana, Piauí. Nesse caso específico, denúncia do Ministério Público Federal (MPF) aponta que, em hospital de propriedade do nobre parlamentar, teriam sido pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), procedimentos como uma ultrassonografia do útero em… um homem!
Gran finale?
Enquanto for possível reclamar de político que não deveria ser político, o povo segue aprendendo o que dá sobre política, com uma notícia aqui e outra ali. O problema é que elas dividem espaço nas telinhas com filmes, novelas, séries, e aí muita coisa séria acaba tomando ares de ficção. Inclusive, alguns espertos entendem isso e passam a interpretar personagens dignos de cinema, como foi Silvio Berlusconi, ex-primeiro ministro da Itália, falecido no último dia 12.
Ele não era “o poderoso chefão”, mas como nas palavras do personagem Don Corleone, “os homens mais ricos são aqueles que possuem amigos mais poderosos.” Foi assim que esse empresário de sucesso surgiu na política, após a operação de combate à corrupção Mãos Limpas, a inspiradora da nossa Lava Jato, dizimar a “velha política” na Itália. Nessa história que conhecemos por aqui também, Berlusconi interpretou o manjado personagem de “justiceiro”, “administrador” e, enquanto muitos debochavam, liderou o país por quatro mandatos. Atualmente, era senador e seu partido, Força Itália, garante no poder a atual primeira-ministra, Giorgia Meloni, de extrema-direita.
Enquanto aqui há quem deseje criminalizar críticas aos políticos, outros fazem fama e dinheiro na base do “fale mal, mas fale de mim”. Não se trata de julgar se esse é um exemplo a ser seguido, mas o fato é que na passagem de Berlusconi, morreu quem ressuscitou e deu um caminho para a extrema-direita.
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