A polarização extrema que tomou conta do Brasil nos últimos anos transformou o cenário político em um embate constante, onde a convivência pacífica e o respeito parecem cada vez mais distantes. Hoje, o país se vê dividido entre aqueles que defendem a democracia e aqueles que pedem o retorno a um estado de exceção, uma ruptura grave com o Estado de Direito. Em meio a essa tensão, alguns grupos buscam se posicionar como “progressistas” ou “neutros”, mas, muitas vezes, essa escolha é uma forma de evitar um posicionamento claro, evitando as responsabilidades que um compromisso político exige.
A neutralidade, nesses casos, se torna conveniente. Ao optar por se distanciar dos rótulos de “esquerda” e “direita”, esses auto proclamados progressistas mantêm uma posição vaga, distante do embate real. Mas a neutralidade em tempos de ameaça à democracia pode ser perigosa: ela enfraquece o debate público e prejudica a clareza das intenções políticas. Para uma sociedade entender quem defende o quê, é necessário que as posições sejam assumidas, especialmente em um momento onde o respeito à democracia é colocado em jogo.
Essa postura “neutra” convive com outro fenômeno alarmante: o fanatismo político e o discurso de ódio. Recentemente, a morte de um”militante nacionalista” trouxe à tona uma questão que já preocupava: o fanatismo que transforma adversários em inimigos. Discursos de ódio e intolerância tornam o cenário ainda mais explosivo (com perdão ao trocadilho). Movimentos como o bolsonarismo, que se consolidaram criticando o sistema e a corrupção, muitas vezes adotam uma retórica de intolerância e desconfiança nas instituições, colocando a estabilidade democrática em risco.
De um lado, a neutralidade excessiva impede um diálogo honesto e direto sobre questões importantes; de outro, o fanatismo e o radicalismo acabam destruindo o respeito e a confiança entre os cidadãos. E, quando qualquer discordância é vista como uma ameaça, o espaço democrático se encolhe. Esse clima de polarização, que divide o Brasil entre os que defendem a democracia e aqueles que clamam pela volta de um regime autoritário, representa um desafio urgente.
Para que a democracia brasileira floresça, é fundamental que os brasileiros repensem essa postura de enfrentamento. O caminho é cultivar um ambiente de debate onde as diferenças políticas possam ser discutidas com respeito, e onde o diálogo se sobreponha ao ódio. As posições neutras, ou rótulos vazios como “progressismo”, não devem ser escudos para evitar compromissos reais. Em tempos de risco para a democracia, é vital que todos tomem uma posição clara e genuína em defesa dos princípios democráticos.
O recente atentado, longe de servir como combustível para mais hostilidade, deve ser um momento de reflexão. A democracia só se fortalece quando todos assumem a responsabilidade pelo diálogo e pelo respeito mútuo, em que divergências ideológicas não são uma ameaça, mas uma base para o debate saudável. Que o Brasil possa se unir em torno de um compromisso firme com a paz e o respeito, assegurando que o país permaneça um espaço de todos — e não apenas daqueles que se valem da intimidação ou que aspiram ao autoritarismo.
Marco Antônio André (Marcão), advogado e ativista de Direitos Humanos
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