Opinião: a nova Ágora

Até bem pouco tempo a cidadania precisava da mediação dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos sociais, enfim precisava ser representada para expressar o seu descontentamento ou para reivindicar. Hoje, graças às Tecnologias da Informação e da Comunicação nasceram as redes sociais e daí o poder de auto-organização e de rápida mobilização, sem par na História.

Há uma nova Ágora, a nova praça pública é virtual. Há uma nova expressão da cidadania que se manifesta negando tanto o Mercado quanto o Estado. Há uma ansiedade por se expressar, por ocupar espaços sem ter que pagar, sem ter que consumir ou depender de permissão e controle de autoridades. Porém, como toda tecnologia pode ser usada tanto pra o bem como para o mal, temos no caso das redes sociais a proliferação de fake-news, tocadas geralmente por interesses menores.

Muito bem, os movimentos que se organizam nas redes e acabam ganhando as ruas, podem começar com motivação única, por exemplo a redução da tarifa do transporte coletivo ou aumento dos combustíveis, mas isso é apenas um detalhe que esconde um problema maior no ambiente sócio-político, cultural e econômico.

Penso que na sociedade contemporânea os modelos institucionais, herdados das Grécia e Roma antigas, do cientificismo surgido no início da Modernidade e também da Revolução Francesa, estão sendo arrostados.

A Família (ou os seus valores tradicionais), a Escola (ou seu método renitentemente mecanicista e cartesiano), as Religiões (ou o choque entre fé e ciência), o Mercado (ou sua lógica excludente) e o Estado (ou sua missão estruturante) em síntese, tudo é questionável ou está em cheque. A contestação é geral e generalizada, o establishment está na pauta.

E a grande mídia? Costumava não ser somente um canal de notícias e sim partícipe fundamental nos fatos, quase sempre não fazendo jornalismo e sim negociatas. Agora em função das novas tecnologias, mas também face ao descrédito que conquistaram estão, os grandes grupos, quase todos, em estado pré-falimentar.

Mas, por quê? Parece que ocorre uma exaustão do sistema, um desgaste das abordagens vigentes em todas as dimensões da vida humana associada, mas em especial na Política e na Economia. Nesta porque a sua instituição central, o Mercado, logrou invadir todos os espaços com sua lógica obliterante e excludente e, por conseguinte, tudo e todos podem ser comprados ou vendidos e com isso restou espaço nenhum para o convívio humano genuíno e restaurador. Na política, o embate raramente praticado em torno de ideias ou de propostas, pretendendo somente desqualificar o adversário, acabou por desconstruir a própria Política.

O mundo de hoje está em chamas. Revoltas populares na França, no Chile, na Bolívia, na Colômbia, a eterna guerra entre árabes e judeus e por aí afora, são eventos observados (e manipulados) pelas potências (que também enfrentam sérios problemas como a xenofobia e o esgotamento do modelo imperialista). E tem mais, há fortes evidências que teremos uma verdadeira hecatombe econômica maior que a de 1929 ou a de 2008, consequente da ferrenha disputa entre China e EUA (e a Rússia de olho).

E o que é extremamente preocupante, com o “sistema” falido não há nada para colocar em seu lugar. A tal pós-modernidade ainda não começou.

Para finalizar há uma constante na história da humanidade – a linguagem da tensão. Eric Voegelin a chamava de tensão existencial; Platão a entendia como uma “metaxi”. Estamos permanentemente na condição de “estar – no – meio”, de “estar – entre” dois polos, duas tendências. Entre a vida e a morte; perfeição e imperfeição; ordem e desordem, enfim, entre ideias divergentes, porém complementares. Se separarmos esses pares de símbolos, se desconsiderarmos os polos de tensão estaremos deformando nossas humanidades.

Por isso se os movimentos populares que se espalham pelo mundo implicarem uma nova ordem devem ser saudados.

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