Opinião | A urgência em democratizar o conhecimento

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A ignorância absurda chegou a uma configuração inacreditável. Pessoas que optaram por abandonar toda e qualquer capacidade de colocar-se no lugar do outro, impedindo que qualquer um, inclusive cidadãos com cirurgia agendada e outras tantas urgências passem, em uma via pública, simplesmente porque o candidato deles perdeu a eleição é uma das cenas mais comuns que temos visto cotidianamente e está se tornando banal. Todos os que votaram no candidato perdedor estão na rua cometendo crimes? Todos são vagabundos? Não, a grande maioria de quem votou no candidato derrotado, bem como em quem votou no candidato eleito, está trabalhando, tocando a sua vida como se espera em uma democracia.

Nós, enquanto geração, sabemos perder? A cobrança a todo momento, é para sermos os melhores da turma, os melhores nos concursos, tendo tomado as melhores decisões, feito o melhor negócio, e por aí vai. É para sermos os campeões, trazer a taça pra casa! Felicidade estampada no rosto é uma obrigação. A gente responde que “está tudo bem” no automático, mesmo em um hospital ou velório. É interessante termos presente que não é um problema se não estivermos o tempo todo bem, o tempo todo felizes. Perder faz parte. Não estar bem é normal. Acontece. Errar, até o Ministro da Economia erra (e como erra!).

A ideia de tratar as crianças como sendo príncipes e princesas, é bom que a gente se atente, príncipes e princesas têm súditos. Quem é o súdito? Os pais? Os outros? Os professores? Quem te atende no dia a dia são seus súditos?

Será que ensinamos os nossos filhos que mesmo com dor de cabeça, cólica, mesmo depois de uma decepção ou um desentendimento, precisamos encarar o mundo real, ir pro trabalho e, isso sem descontar nas demais pessoas, pois elas não têm nada a ver com o nosso problema? E, quando acostumados a verem seus desejos realizados pelos demais desde criança e o seu candidato perder a eleição, estão preparados para seguir o jogo democrático, ou vão fazer baderna na rua, espernear feito criança mimada no chão do supermercado por não ter ganho o doce?

Como se não bastasse a tentativa pífia de solicitar intervenção militar, há nesse grupo de uns poucos gatos pingados arruaceiros inclusive quem queira intervenção alienígena, e isso mandando um sinal de socorro para o céu, com a luz do celular (como se tal luz pudesse ser vista de longe) e, ainda, em uma tentativa risível de Código Morse. Mesmo que tivessem acertado a linguagem, naquele tampar e destampar frenético da lanterna do celular (alguns apontando a lanterna do celular pra própria careca ao invés do céu), precisariam torcer para os alienígenas também entenderem a linguagem, para também usarem Código Morse em seus planetas de origem.

Tem muita burrice envolvida. Há também burrice somada a faltas éticas. E há burrice somada com crimes. Que os criminosos sejam encaminhados para as cadeias e para o sistema jurídico, e que o novo governo faça o que esse, que está apagando as luzes, não fez: invista em educação, pois o caminho é apenas um. Atualmente temos mais de 4 mil e quatrocentas obras paradas na área de educação, segundo divulgado essa semana pelo Tribunal de Contas da União.

Uma filósofa iluminista, Mary Wollstonecraft, parece ter razão. Não adianta dar simplesmente o acesso a participar das decisões das coisas públicas, é necessário também que, para isso, as pessoas tenham condições reais de liberdade e acesso à educação de qualidade. E com educação não estou dizendo diploma. Um diploma é parte disso, mas, como bem se sabe, não implica necessariamente em a pessoa conseguir compreender o mundo que o cerca, ou, ainda, conseguir fundamentar as suas opiniões. A educação não se reduz a um diploma.

A própria liberdade, entendida como a capacidade de compreender a situação e tomar uma decisão correta por mais que não houvesse lei alguma, por mais que nenhuma punição terrestre e nem divina obrigasse, ou, ainda, entendida como autonomia, ser o autor da própria lei, é uma capacidade que pode ser entendida como um dos melhores usos que podemos fazer da nossa razão. E a razão não nos é dada pronta e acabada, precisamos desenvolvê-la aos poucos, no dia a dia.

Espinosa também poderia nos ajudar a pensar o modo como nos relacionamos com os nossos afetos e com a ética. Para esse pensador, temos uma potência de existir e de agir. Quando a intensidade dessa potência de existir e de agir é diminuída ou aumentada totalmente ou parcialmente externamente, ou seja, tendo em vista outras pessoas, situações e contextos, não estamos no melhor uso de nossa condição. Há, para o filósofo, condições de o sujeito só depender dele mesmo, de uma determinação interna para aumentar a sua potência de existência e de ação, se realizando independente do resultado do jogo de futebol ou do resultado da eleição.

O que nos cabe é colaborar para democratizar o conhecimento, para que, com o esclarecimento das ideias, dos conceitos, com a potencialização do uso da razão, que seja cada vez menor o número de adultos que não conseguem entender o que se passa ao seu redor para além de seu grupo de zap, de adultos que não se importam com a necessidade dos outros, de adultos que cometem crimes achando que estão com a razão e que são os “cidadãos de bem”. Que se identifiquem com ideologias políticas de direita, de centro, de esquerda, a vontade, mas que o façam de modo fundamentado, e não pautado em dogmas. Que entendam o que é ética, o que é política, o que é democracia, o que é povo, e que o povo não é somente o seu umbigo ou os seus amiguinhos. Nosso trabalho, com a democratização do conhecimento, é para que se diminua a ignorância.

2 Comentário

  1. Seguir o jogo democratico de quem , da quadrilha do PT . Esta eleicao nao foi ganha , foi orquestrada pela quadrilha do PT e seus suditos, os ministros do STF e o bandido do STE . Por favor, nao ache que todos sao cegos igual aos ideologistas cegos da esquerda .As empresas que devolveram bilhoes na operacao lava jato , devolveram o dinheiro porque ?Cegos sao aqueles que nao querem ver.Se as urnas nao foram fraudadas, porque nao querem que sejam analisdas ? Ignorantes sao aqueles que votaram em chefe de quadrilha, que so olham o que querem ver .

  2. Sr.Fernando.Para sua informação.
    De mais de 14 mil obras paradas recebidas dos seus antecessores, 4 mil ainda estão com entraves.
    Quanto a burrice que você tanto menciona:
    E, que nossos netos devem ser ensinados de que tivemos eleito, que além de corrupto e presidiário foi eleito de forma fraudulenta?
    Acorda.
    O papel aceita tudo, mas a história vai revelar a verdade.

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