Opinião: a vaidade é o problema do Brasil?

Imagem: Narciso de Michelangelo Merisi da Caravaggio/Reprodução

“O primeiro passo para viver com sabedoria é renunciar a vaidade”. Epicteto, o escravo e um dos maiores pensadores que transitaram neste plano foi preciso: a empáfia atrapalha os dias por aqui. O ego é um inimigo de todos. Acredite: em algum momento, de alguma forma, nossas certezas traem a compreensão da vida. Insistir em defender o lado, mesmo diante da realidade teimando em apontar outro caminho, é o limite entre a dignidade e a burrice.

Reconheço que a minha vaidade por vezes – não poucas – atrapalhou e atrapalha o meu caminho. Trabalho todos os dias para deixar no passado o egoico desejo de possuir a razão, contemplar mais o que a vida premia e não julgar tanto o que ocorre. É difícil! Doi de mais! Mas, nossas cicatrizes são a marca da evolução, não é?

Um dos obstáculos que encontro nesta busca pela sabedoria de Epicteto é o momento vivido pelo Brasil. Quantas reflexão sobre o ego e vaidades já realizei. É bizarro e assustador. Pessoas que admiro, que tenho carinho, apegadas em fagulhas de um torto mundo que sou incapaz encontrar um ponto de razoabilidade. Nesta roleta, minhas fichas estariam na aposta que, para eles, admitir o erro de julgamento é o obstáculo para virar a página. Ou seria uma ferida em minha insistente vaidade?

Um dia, quando eu era assessor de Luiz Henrique, assisti o papo entre ele e o Ex-governador Raimundo Colombo que disse: “nunca vi uma briga política construir um hospital”. Hoje, espectador da realidade, vejo a doença vencendo. Não importa o quanto evidente esteja a verdade. Para alguns a palavra de um único político, por incrível que pareça, basta.

O que impressiona, para mim, é o seguinte: o pai de família não acredita na palavra da esposa, porém, mamadeira de piroca é verdade. Não tem coragem pra matar uma barata, agora ter uma arma vai deixar a vida mais segura. O amigo não toma o chá da vovó para não praticar a automedicação, mas, por recomendação de um, enfia cloroquina até em lugares impróprios. O sujeito come espetinho frito da rua, e questiona qual é a marca da vacina. O sabichão investe na bolsa, usa o pix, compra e vende criptoativos, agora, seguro mesmo é o voto no papel.

A semana se foi e eu sigo na busca, com muita fome de conhecimento próprio. Porque, como diria Nietzsche, “somente quando o homem tiver adquirido o conhecimento de todas as coisas poderá conhecer a si mesmo. Porque as coisas nada mais são que a fronteira do homem”.

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