Opinião | A vitória de Milei e os desafios de Javier

Foto: Reuters/Reprodução

Os hermanos fizeram a sua escolha e Javier Milei foi eleito presidente da Argentina. Sendo um candidato contra tudo e todos, portanto, com poucas alianças, foi um feito notável derrotar o peronismo.

Por seu lado, o governo também facilitou: em um país com a inflação fora de controle, como pode eles terem escolhido como candidato exatamente o ministro da Economia, Sergio Massa? Para completar o pacote, durante o segundo turno, o país sofreu com o desabastecimento de gasolina porque, devido à falta de dinheiro, o país não conseguiu importar combustível.

Analisando por essa perspectiva, Massa chegou longe, muito em função do medo que muita gente sente de Milei. Uns antipatizam com seu temperamento explosivo e outros acreditam ser impossível que ele consiga tudo o que prometeu, levando o país a mais crise. Porém, para boa parte dos 44% que votaram no ministro da Economia, o receio é que ele alcance os seus objetivos.

Porém, bobo é quem acha que alguém que chega a ser presidente é bobo. Assim como um astronauta que aterrissa em um planeta desconhecido, para o segundo turno, Milei colocou os pés no chão como quem diz: “vim em missão de paz, leve-me ao seu líder”. No caso, o recado foi dado à terceira colocada, Patrícia Bullrich, do tradicional União Cívica Radical (UCR), o PSDB deles. Ela levou a mensagem ao ex-presidente, Maurício Macri, e o acordo pavimentou a vitória.

A vida real

Longe das redes sociais, saiu o “Milei da motosserra” e, nos bastidores, entrou o Javier, alguém disposto a negociar até com rivais para conseguir o que quer. Preocupado em somar, apareceram os votos, mas foi-se embora muito do discurso que seduziu milhões. Nisso, a privatização da saúde e educação já eram, apenas para citar dois exemplos. Eis o custo da política, mas então, como manter o personagem que foi eleito?

Milei ganhou e como prometeu o céu, tem tanto a fazer que, provavelmente, logo surgirá com o papo de que “quatro anos não serão suficientes”. Propostas como a dolarização da economia, que deu errado no passado, já passaram a serem tratadas como algo para quando for possível.

Enfim, não se trata de torcida contra, mas de entender como a política é: sem uma base fiel, tudo é difícil. É justo que o povo quisesse mudar, mas por lá se votou como se o presidente fosse um mágico, que faz tudo sozinho. E não faz.

Se conseguir o que quer, será ao custo de um aperto de cintos severo nas contas do governo, o que significa todo tipo de dor de cabeça, sendo as greves apenas uma delas. Caso não consiga, como segurar a onda de impopularidade?

Apesar dos discursos, a realidade sempre se impõe para todos os lados. Os próximos anos não devem ser tranquilos, mas em uma análise sem partidarismo, fica sempre a torcida pelos hermanos porque, para as exportações brasileiras, é sempre melhor uma Argentina rica. Apesar disso quase nunca acontecer.

Fernando Ringel, jornalista e professor unversitário

2 Comments

  1. Ocorreu o mesmo no Brasil , lançaram Haddad como candidato , pois sabiam que perderia . Jogaram a conta para o Bolsonaro pagar , já que o governo Temer foi sequencia da Dilma . O que não esperavam era que Bolsonaro daria Jeito . Mas com tudo arrumado, o Brasil em crescimento, a esquerda voltou as eleições , eleição até hoje contestada . Levaram , e em 10 meses fazem a mesma coisa que a esquerda Argentina , quebram o país .
    Esperamos que Milei de jeito na Argentina como Bolsonaro fez no Brasil , o risco é que daqui a 4 anos , a esquerda queira voltar, o que Milei não pode deixar é implantar urnas eletrônicas .

  2. Pequena correção: Patricia Bullrich é do PRO (Propuesta Republicana) o mesmo partido do presidente Macri.

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