O desenvolvimento é uma área fascinante de estudo que tem sido objeto de muitas teorias econômicas ao longo do tempo. É um campo interdisciplinar que visa compreender a complexidade dos fatores econômicos, sociais e ambientais que moldam a economia. Os economistas têm a difícil tarefa de sintetizar esses fatores em modelos econométricos que possam explicar as dinâmicas de oferta e demanda que impulsionam o desenvolvimento. Nesse sentido, a economia é uma ciência vital para o entendimento do desenvolvimento humano e a busca por soluções para os desafios socioeconômicos e ambientais que enfrentamos.
Quando economistas utilizam o poderoso embasamento da matemática e da estatística, de certa forma estão replicando o que os cientistas fazem nas ciências naturais em experimentos de laboratório ao isolar vários elementos e observar diferentes reações. Ocorre que a economia é uma ciência social e seu objeto de estudo é a sociedade, e seus agentes econômicos, as famílias, as empresas e o governo, que interagem, de forma a combinar os diversos fatores de produção, para produzir bens e serviços capazes de satisfazer as necessidades humanas.
Portanto, equacionar econometricamente as demandas de uma sociedade composta por milhões de seres humanos, levando-se em conta que as pessoas têm a liberdade de escolha para mudar suas mentes e mudar seus caminhos é tarefa inglória. Além disso, em muitas situações seres humanos agem de modo emocional deixando de lado a racionalidade econômica.
Nesse contexto, Alfred Marshall, um dos um dos fundadores da economia neoclássica cuja obra “Princípios de Economia”, foi o manual de economia mais adotado na Inglaterra por um longo período, foi um dos primeiros economistas a criticar a ideia simplificadora do homo economicus, que é a ideia de que os seres humanos agem sempre de forma racional, maximizando seus interesses econômicos.
Marshall acreditava que o comportamento econômico humano é influenciado por fatores sociais, culturais e psicológicos. Ele entendia que a cultura, os valores e as tradições de cada época e lugar podem influenciar as decisões econômicas dos indivíduos, tornando-as diferentes das decisões que um homo economicus faria em condições ideais.
É importante destacar que, crescimento e desenvolvimento econômico estão também imbricados com as instituições, que na visão de Thorstein Veblen, um expoente da escola institucionalista americana, são construídas por hábitos de pensamento, ou seja, decorrentes daquilo que as pessoas compartilham com a sociedade que se transformam em um processo evolutivo, especialmente na economia, onde passado influencia presente, bem como, influencia o futuro.
A evolução da Escola Institucionalista para a Nova Economia Institucional (NEI) ocorreu no período pós-Segunda Guerra Mundial, especialmente nas décadas de 1960 e 1970. A NEI considera, num modelo de desenvolvimento as instituições como endógenas, ou seja, quando existe desenvolvimento econômico, necessariamente, está aí interligado, o desenvolvimento saudável das instituições. Logo, as instituições são fundamentais para que haja um aumento da capacidade produtiva da economia representado pelo crescimento do PIB, que alavancará o desenvolvimento econômico, que por sua vez, impactará no bem-estar social da sociedade.
Assim, pode-se dizer, que o desenvolvimento econômico deriva das instituições, as quais, por sua vez, são uma medida do desenvolvimento econômico. As instituições servem de guia diante das incertezas que assolam uma região, pois, servem tanto como limitadores de ações individuais que possam prejudicar o bem comum, quanto, podem expandir e influenciar ações que impactam o bem-estar social. Cabe aqui, lembrar a frase de Benjamin Disraeli, político conservador britânico e escritor: “Indivíduos podem formar comunidades, mas são apenas as instituições que podem criar uma nação.”
A concepção econômica contemporânea parte do pressuposto de que promover o desenvolvimento é, sobretudo, promover a qualidade de vida das pessoas (desenvolvimento humano), de todas as pessoas (desenvolvimento social), agora e no futuro (desenvolvimento sustentável).
O impulso para o desenvolvimento, principalmente em regiões não desenvolvidas passa por uma força motriz de constituição externa, que influencia mediante encadeamentos (linkages effects), as outras atividades econômicas, determinantes para geração de renda e emprego. Alfred Marshall fez um estudo pioneiro sobre a aglomeração econômica pesquisando os distritos industriais ingleses, onde ele buscou explicar as causas e vantagens de localização das indústrias em alguns espaços específicos.
No entanto, para uma região obter avanços em sua economia que transbordem também para o aspecto social, necessariamente tem que haver conexão com o amadurecimento de processos sócio-políticos diversos e principalmente das instituições. Então, é premente e inevitável se conhecer os elementos decisivos que explicam as causas das regiões que se desenvolvem, assim como, entender porque outras regiões ficam estagnadas e fadadas ao subdesenvolvimento.
Desenvolvimento regional é o movimento que dinamiza as vantagens comparativas de um determinado território, as quais determinam o crescimento econômico de modo a provocar efeitos positivos no capital humano e capital social, que por seu turno, podem implicar na melhoria de políticas públicas, favorecendo o bem-estar geral da sociedade local. Logo, uma região desenvolvida sabe combinar de forma eficiente os diversos atributos econômicos, sociais e tecnológicos disponíveis, como recursos naturais, renda, capital, conhecimento e poder.
Um outro fator primordial no processo de desenvolvimento, é a política que afeta de forma contundente o ambiente institucional. A política pode modificar os fatores que determinam a estrutura do mercado — e, com efeito, todo o sistema econômico, inclusive sua legislação tributária e social — caso os interessados nas modificações detiverem suficiente poder político. Por isso, uma investigação econômica efetiva, deve contemplar o ambiente institucional como uma variável. O ex-presidente do Banco Mundial e médico norte-americano de origem sul-coreana Jim Yong Kim disse que “O sucesso de um país não está apenas nas mãos dos líderes políticos, mas também nas instituições que eles ajudam a criar e sustentar.”
Para terminar, a ciência econômica não pode fornecer respostas precisas e universais para os fenômenos econômicos, pois está intrinsecamente ligada às complexidades e variabilidades do comportamento humano. No entanto, pode-se buscar compreender certas lógicas de causalidade utilizando modelagens econométricas, desde que sejam aplicadas com prudência e com o devido reconhecimento das particularidades de cada caso.
Jorge Amaro Bastos Alves, economista e professor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado
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