Opinião: as mãos sujas de sangue

Foto: reprodução

O Bolsonarismo é a política da divisão. Por isto, o Presidente Jair Bolsonaro está sempre a favor ou contra algo. E é por isto também que agressões, ofensas e afrontas fazem parte de sua rotina política. Nada escapa aos ataques do Bolsonarismo: opositores, lideranças, partidos, instituições… E, agora, até no seu próprio governo, como ilustra as disputas pelo protagonismo político na gestão da COVID-19. A divisão política constitui não somente uma forma de governo, mas também uma de estratégia verticalização autoritária: raiva e medo se transformam em votos, votos se transformam em mandatos, e mandatos se transformam em dominação.

Afinal, foi o presidente Jair Bolsonaro iniciou a politização da COVID-19. A perceber que estava sendo isolado politicamente começou a mandar sinais trocados para população: a) No primeiro pronunciamento afirmou que a COVID-19 era uma gripezinha; b) No segundo reconhece que a gravidade da COVID-19a; c) No terceiro afirma que o problema é o desemprego; d) No quarto afirma que a solução é a cloroquina. É que se num momento o presidente posa com máscara numa reunião ministerial, em seguida aparece sem máscara abraçando pessoas. Cada recuo discursivo em direção da sensatez, implica um gesto prático em direção a insensatez! 

Neste sentido, o encontro do Bolsonarismo com a COVID-19 constitui um exemplo emblemático das ameaças da política da divisão. Para o Bolsonarismo a COVID-19 representa um risco porque une a sociedade.  Assim, depois de alguns dias de confusão o campo político de polarizou novamente. A divisão política constitui a expressão mais evidente da Política de Polarização. E dos Coxinhas X Mortadelas, passamos para os Petralha X Bolsominions, até chegarmos aos Quarenteners X Cloroquiners… Assim, a agenda política é capturada pelos extremos radicais de cada lado do espectro ideológico. Porém, a Política de Polarização dificulta a gestão da COVID-19.

Vivemos temos excepcionais, mas Bolsonarismo continua o mesmo. Como todo movimento social precisa ser convertido em votos e ganhar uma forma institucional. Por isto, Bolsonaro gera crises políticas porque acredita que isso favorece a manutenção do controle do processo eleitoral.  Afinal, sabe que quem ganha a eleição é quem manda. Porém, na COVID-19, a divisão política assumiu uma dimensão completamente nova. O enquadramento político dos gestores da crise compromete a legitimidade da principal autoridade sanitária do Brasil. Neste sentido, o Bolsonarismo adiciona o risco político ao risco sanitária e econômico da crise.

A crise sanitária diz respeito aos impactos diretos da COVID-19 no sistema de saúde. Trata-se, neste sentido, de reduzir a demanda por tratamento hospitalar intensivo e ganhar tempo para as ondas de subsequentes de contágio. As evidências disponíveis, até o momento, é de que o Distanciamento Social constitui o único mecanismo de contenção da curva de contágio. Neste sentido, o debate se estabelece entre os limites e potencialidades das ações de Isolamento Horizontal e Isolamento Vertical. Portanto, a falta de testes em massa e uma rede de rastreamento ampla faz com que sigamos no escuro sem saber direito o que estamos fazendo.

A subnotificação potencializa as consequências negativas do Distanciamento Social na sociedade. É que associado a crise sanitária se estabelece também a crise econômica. A crise econômica diz respeito aos impactos indiretos provocados pelas estratégias de gestão da COVID-19. Mais precisamente, as consequências colaterais a médio e longo provocado da paralisação da atividade econômica. Entre os principais efeitos destacam-se a queda do consumo, a paralisação da produção, o aumento do desemprego e, consequentemente, a queda da crise fiscal. O efeito combinado destes processos tende a desencadear uma profunda depressão econômica. 

O efeito sanitário e econômico da COVID-19 é agravado pela crise política. Enquanto um movimento social o Bolsonarismo especializou-se na estratégia de divisão política. Assim, o Bolsonarismo fornece interpretações dos fatos para produzir e disseminar narrativas que contrárias ao Distanciamento Social. Neste sentido, a crise política se estabelece em duas dimensões principais: a) Dimensão Interna: luta pela integração política no interior do governo; b) Dimensão Externa: luta pelo contra emergência de adversários. Neste sentido, aqui questão central compreende a manutenção da popularidade e do protagonismo político do presidente. 

A crise tríplice nos deixa num estado de assombração contente. Passado, presente e futuro vão sendo engolidos pela Política da Divisão: o “Distanciamento Social” e a “Cloroquina” se converteram numa preferência ideológica. Enquanto isto o povo parece perdido entre os que querem que a população vá para a rua, e aqueles que querem que a população fique em casa. Assim, além de viverem com a ameaça diária de contágio são reféns do descompromisso do Bolsonarismo com a ciência e o bom senso. É por isto que para o Bolsonarismo os problemas não são a curva de contágio e a curva de desemprego, mas, sobretudo, a curva de popularidade. 

Ao não se solidarizar com o sofrimento das vítimas Bolsonarismo manda um sinal inequívoco para a sociedade brasileira: o que conta mesmo é a verticalização do poder. Neste sentido, os apoiadores do governo, especialmente a ala empresarial, os canais de notícias e a mídia social também se tornam cúmplices nesta tragédia. Como uma seita, revela que sua base de apoio está disposta a aceitar qualquer justificativa ideológica para defesa política de seu líder. Mostra que entre a morte e a desonra o Bolsonarismo acabou escolhendo os dois… Como antes, o Bolsonarismo segue em frente em sua marcha de destruição, porém, agora, com as mãos sujas de sangue!  

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