Opinião | As semanas que décadas acontecem

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters/Reprodução

“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Poucas vezes na história brasileira a frase de Lênin empregou tamanha verdade. Eu sei, já usei outras vezes estas palavras em meus textos. O Brasil, porém, segue avançando no inacreditável, no intolerável e que surpreende cada vez mais no escrever de seu tempo.

Diante dos olhos de todos, o poder de Estado foi testado, com ataques criminosos ao local que deveria ser o mais protegido do país. Não existem condições que diminuam a culpa de cada envolvido diretamente ou não nesta barbárie. Não dá para passar pano. Nem mesmo a ignorância, ou o tamanho do pix, servem de alívio para qualquer um dos “Zé ninguéns” que auxiliou na balbúrdia.

Mas, a falha que permitiu que terroristas invadissem a praça dos três poderes, destruindo o patrimônio, buscando um golpe para depor o governo, é também um erro social. Caímos, como nação, em desgraça sem saber como (re)conciliar a insatisfação de quem perdeu com a esperança dos vencedores. Fechou-se o caminho do diálogo, natural e evoluindo, para completa doença da raiva, trazendo das trevas o pior do povo.

Tudo isso, um desenrolar da morbidez que espalha o assombro nos mais distantes lugarejos do Brasil, parece tornar atual a velha ideia de Levy-Strauss quando disse, em outras décadas, que sairemos da barbárie para a decadência sem conhecer a civilização. Temo que a verdade assuma como real este pessimismo.

Aos nossos olhos a história vai registrando os fatos. Ou combatemos a intolerância e o surto golpista-terrorista com energia, ou não ficará estancada esta ferida que infecciona o corpo inteiro, o país. Não é exagero dizer que, nestas semanas, que abrem o janeiro de 2023, às próximas décadas acontecerão.

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